Viagem ao país dos fumetti

Viagem ao país dos fumetti

Pouco mais de quatro meses atrás fui transferido para Roma, por motivos profissionais. Na hora em que comecei a tomar todas as providências práticas para a mudança ainda não tinha me dado conta, mas pouco antes de embarcar caiu a ficha de que estava prestes a morar numa das mecas do quadrinho na Europa. Sim, para quem não sabe, a cultura de quadrinhos na Itália é uma tradição estabelecida já há várias décadas. Fumetti – que é como os quadrinhos são conhecidos por aqui – são uma forma de arte largamente disseminada e é possível encontrar pessoas de todos os tipos consumindo e lendo em tudo quanto é lugar, especialmente nos meios de transporte. Aos poucos fui percebendo que tinha tirado a sorte a grande. O país é realmente um paraíso para os apreciadores da nona arte.

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Sobre guardiões, naturalistas e policiais: Seton e Guardiões do Louvre

Sobre guardiões, naturalistas e policiais: Seton e Guardiões do Louvre

A imagem que abre este texto é uma reprodução de uma pintura de Ernest Thompson Seton. A pintura é intitulada A Vitória do Lobo. Essa pintura, e sua figuração mórbida e chocante, foi reprovada pela curadoria do Grande Salão de Paris, em 1892. De nada adiantou mudar o título para Aguardando em Vão, na expectativa de que uma dose de ambiguidade pudesse convencer os júris de que aquela agourenta imagem de um lobo roendo um crânio humano acompanhado de uma despojada alcateia pudesse representar algo diferente da derrota fatal de todo um plano humanista que se encontrava a pleno vapor na Europa do Século XIX (a pintura foi inspirada na notícia de um roceiro caçador de lobos predadores de gado que desapareceu certo dia para reaparecer como um cadáver parcialmente comido pelos mesmos lobos que pretendia eliminar). Sentindo-se um incompreendido em seu discurso artístico, Seton retornou então para a América do Norte para seguir sua vida em meio aos ambientes selvagens como um estudioso dos animais que tanto respeitava. 

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As 31 melhores leituras da Raio Laser em 2018

As 31 melhores leituras da Raio Laser em 2018

Direto ao ponto, porque esse post é uma "long and winding road". Quem segue a Raio Laser sabe que nosso "best of" de fim de ano corresponde às melhores leituras em quadrinhos, de qualquer época ou nacionalidade, realizadas no decorrer dos últimos 12 meses. Como a Raio é um bicho solto, cada escriba faz a sua lista do jeito que quiser, isso se quiser fazer. Para a lista de 2018 três colaboradores se habilitaram. Eu, Márcio Jr. e Marcos Maciel de Almeida. Márcio e Marcos fizeram listas com dez títulos. Marcos colocou em ordem. Eu fui fominha e fiz 11 títulos. Eu e Márcio não colocamos em ordem. Tem de tudo aí nesse balaio: lançamentos, quadrinho nacional, BD, mangá, erótico, comics, romance gráfico, fumetti, era de ouro, etc. Para se ir lendo em partes, mas para se ler inteiro! Até 2020! (se tivermos mundo em 2020). (CIM)

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X-Táticos, de Milligan e Allred: pop art imprevisível e mutante

X-Táticos, de Milligan e Allred: pop art imprevisível e mutante

Entramos nos anos 2000 aproveitando as benesses e também os ocasos da tecnologia: muitos de nós usando telefones celulares, acessando a internet e trocando mensagens e conteúdo via e-mail. Mas também experimentando o início do controle cibernético, uma maior falta de tempo, relacionamentos anteriormente presenciais e hoje em dia mais líquidos, distantes fisicamente e em algumas vezes, afetivamente. Muitos conceitos estavam sendo modificados na sociedade nesse período, e por que não rever o conceito de mutantes também? Afinal, titio Stan Lee e vários outros roteiristas e artistas tanto na Marvel como na DC nos ensinaram que os super-heróis eram um reflexo do que estava acontecendo no mundo exterior. E foi aí que surgiram, rejeitando a cronologia e o politicamente correto, os X-Táticos de Peter Milligan e Michael Allred. E quem irá dizer que não é ousadia assumir um título X introduzindo um grupo de personagens 100% desconhecidos e esquisitos?

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Quatro vezes John Romita Jr.

Quatro vezes John Romita Jr.

Nem eu nem os amigos que assinam os textos abaixo estaremos na CCXP 2018, super evento de cultura pop em São Paulo que, entre 6 e 9 de dezembro, recebe como convidados uma série de artistas, brasileiros e estrangeiros, para sessões de autógrafo, lançamentos, palestras, etc. e tal. Estivéssemos lá, o entusiasmo maior, com certeza, seria sobre a presença do desenhista americano John Romita Jr. Falo por mim, mas sei que falo também pelos comparsas de Raio Laser, que Romitinha está em nossa lista de ilustradores de quadrinhos favoritos. Sendo assim, seria sensacional poder encontrá-lo e pegar um autógrafo (um sketch, quem sabe), fazer uma foto e trocar meia dúzia de palavras para agradecê-lo pelas milhares de páginas produzidas ao longo dessas décadas todas.
Mas, qual revista autografar? Uma edição de X-Men, em formatinho, de quando Romita Jr. fazia as histórias dos mutantes tendo Magneto como líder? Ou uma Super Aventuras Marvel, com alguma história do Demolidor escrita por Ann Nocenti? Ou a edição especial Grandes Heróis Marvel - n° 50 (também em formatinho), que compila “Justiceiro - O Homem da Máfia”, com a versão parrudíssima do personagem? Quem sabe então a minissérie Homem Sem Medo, em parceria com Frank Miller (e arte final do monstro Al Williamson)? Ou talvez a one-shot Corações Negros, estrelando Motoqueiro Fantasma, Wolverine & Justiceiro?

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Os 11 personagens mais sem graça da história dos comics

Os 11 personagens mais sem graça da história dos comics

“Eu desaprovo a sua existência” é uma frase clássica do filme Wyatt Earp, de 1994. Faz referência a um dos personagens do filme, mas poderia muito bem remeter a inúmeros personagens que parecem ter nascido só para testar a paciência dos leitores. Tudo bem que errar acontece. Mas para cada Batman e Homem-Aranha tivemos de suportar muitos outros heróis, vilões e grupos que simplesmente não disseram a que vieram. Origens ridículas, poderes meia boca, altas doses de canastrice ou a boa e velha falta de criatividade legaram o rol da desonra para diversos superseres da Marvel e da DC. 

Não que eu não goste de personagens esquecidos e do tipo lado “Z”. Quem me conhece sabe que tenho carinho especial por bizarrices como Valete de Copas, Cavaleiro da Lua e Liga da Justiça Europa. O problema é que os personagens relacionados a seguir não provocaram nenhuma cumplicidade em meu coraçãozinho. Sabe aquela máxima do “é tão ruim que é bom”? Nem isso eles conseguiram. São apenas ruins. Quem são eles? Bem, segue a lista, com ordem crescente de desprezo. 

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Dossiê Stan Lee - três visões sobre "O Cara"

Dossiê Stan Lee - três visões sobre "O Cara"

Stan "The Man" Lee se foi. Todo leitor de quadrinhos que se preze sabia que esse dia se avizinhava. Quando penso na extraordinária influência que sua sombra exerce sobra a cultura contemporânea, lembro de uma frase de Jack White, da findada banda de rock americana The White Stripes, comentando o fato de que seu sucesso Seven Nation Army tenha se tornado hino de torcidas em estádios de futebol do mundo inteiro. Não sei bem se isso é apócrifo, mas White, fã de blues rural e música folk americana, teria dito, sobre o fato de as pessoas não saberem mais a autoria da canção: "isso é o máximo que um artista pode almejar. Quando não se sabe mais quem criou as coisas, é porque elas efetivamente se transformaram em folclore." 

Ora, quanto aos heróis Marvel, sabe-se bem, hoje em dia, ao menos quem foi um de seus criadores. Falo de Stan Lee. Porém, isto é assunto para infindáveis debates: o fato de Kirby, Ditko e outros não receberem o devido credenciamento (e, em vida, não terem recebido o mesmo retorno financeiro) pelas criações Marvel é motivo suficiente para, no mínimo, se questionar o status de semideus assumido pelo velho "The Man" nas últimas décadas, impulsionadas pelo astronômico sucesso dos filmes de super-heróis, capazes de revolucionar a indústria do cinema em si (para o bem ou para o mal).
Porém, enfatizo a frase de Jack White no sentido de que, mesmo em relação a Lee, seus super-heróis ultrapassam qualquer engajamento em mídia, editora, história dos quadrinhos ou quaisquer autores que sejam. De uma criança de quatro anos até um quarentão militarista cafona, gerações "cantam" os heróis Marvel na vida cotidiana (como se canta Seven Nation Army nos estádios) sem saberem lhufas de quadrinhos, sobre a quase falência da Marvel no período imediatamente anterior a estas criações, à trajetória de Stan Lee como roteirista, manager e editor, sobre o marvel way, sobre Jack Kirby, John Romita, John Buscema, Marie Severin, Steve Ditko e tantos outros. Cantam estes heróis porque um inconsciente óptico lhes diz que os cante, simples assim. De fato, é a Valhalla da criação popular.

Este "dossiê" da Raio Laser apresenta três textos dos nossos escribas mais engajados (não de maneira acrítica) no universos dos quadrinhos de super-heróis. Pessoas que gastaram quase tantas horas lendo estes gibis quanto dormindo ou penteando os cabelos, escovando os dentes. Márcio Júnior põe o dedo na ferida e procura sublimar a eterna questão a respeito de Lee ser um herói ou um vilão dos quadrinhos. Marcos Maciel de Almeida realiza uma muito bem-vinda comparação com os Beatles. E Lima Neto analisa, com a categoria de sempre, a primeira edição do Quarteto Fantástico. Quanto a mim, além desta introdução, você pode ler o porquê de eu considerar o Hulk a obra-prima de Lee/Kirby na ZIP, minha coluna no Metrópoles. Excels... hmm... deixa pra lá. Acho que isso já foi dito muitas vezes.

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