por Lima Neto
Algumas vezes é difícil entender a razão de sucesso de determinados títulos. Às vezes essa dificuldade simplesmente expõe um mal gosto generalizado disfarçado de estilo ou nostalgia. Em outros momentos, porém, como no caso do Quadrinho ArtOps, lançamento do selo Vertigo e publicado no Brasil pela Panini, a incongruência entre as indicações elogiosas e a qualidade do material descredita ainda mais o mercado dos comics norte-americanos. Mesmo assim, em sua narrativa desgastada e seu discurso rasteiro sobre arte, ArtOps acidentalmente levanta alguns questionamentos bem urgentes sobre arte e liberdade de expressão. O volume, que encaderna as primeiras cinco edições da revista norte-americana, tem o roteiro de Shaun Simon e conta com a arte sempre competente (embora um tanto sem inspiração na edição em questão) de Michael Allred auxiliado pelo traço de Matt Brundage e as cores da costumeira parceira e esposa de Allred, Laura.
O roteirista Shaun Simon faz parte de uma geração que foi diretamente afetada pelo desenvolvimento do quadrinho para “leitores maduros” nas grandes editoras estadunidenses, processo este que culminou na criação do selo Vertigo e que encontrou na editora Karen Berger sua ponta de lança. Não sem motivo, o direcionamento gráfico de seus títulos da DarkHorse - Neverboy e The Fabulous Lifes of the Killjoys - seguem muito próximos ao estilo visual do selo da DC. A própria DarkHorse abriu suas portas para a mentora editorial do “mature reader” e criou o Berger Books, selo de quadrinhos editados por Berger. Em seu primeiro trabalho para a Vertigo, entretanto, Simon desaponta com uma HQ recheada de anarquismo de boutique e um discurso superficial sobre Arte – teoricamente a matéria prima conceitual de seu roteiro - que envergonha até os recentes guardiões dos bons costumes que inflamam a discussão sobre censura na arte brasileira.
Em ArtOps, título que faz trocadilho com o termo OpArt - tendência artística dos anos 60 que buscava explorar os conteúdos plásticos da imagem de maneira a dialogar com os limites e falibilidades da visão humana - vamos conhecer Reginald “Reggie” Jones, uma espécie de Joe Strummer embrulhado em um emaranhado de clichês de personagens típicos da Vertigo, parte Shade The Changing Man, parte Dane McGowan de Invisibles. Reggie é o único filho da líder do grupo de operações especiais que dá nome à revista e prefere viver no submundo do boxe e nos guetos punk de Nova York a trabalhar para a mãe.
ArtOps faz parte de uma safra de narrativas em quadrinhos que vão imaginar forças policiais para áreas do cotidiano que costumeiramente não possuem um sistema de vigilância, como é o caso de DPF - Departamento de Polícia da Física, de Simon Oliver e Robbie Rodriguez e publicada também na Vertigo. Como resultado, vemos a multiplicação de séries policiais com temas bizarros, uma influência inegável da saudosa Top Ten de Alan Moore e Gene Ha, publicada pelo selo ABC Comics, pertencente à DC.
Nessa perspectiva, ArtOps acompanha um Reggie que se vê obrigado a entrar para a corporação da mãe depois que a equipe inteira desaparece. O herói relutante se junta a um personagem de quadrinhos vivo, uma espécie de ser de nanquim também reminiscente do herói satírico Splash Branningan da ABC; uma agente sobrevivente que escapou do desaparecimento por estar presa fora do tempo; e uma garota qualquer que encontram pelo meio do caminho (sim, esta é uma descrição precisa). Juntos, devem proteger a própria Mona Lisa del Giocondo, retirada do quadro em que vive e solta no mundo real.