O que é RAIO LASER?

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O QUE É RAIO LASER?

A Raio Laser é um blog, com ares de revista eletrônica, que tem como princípio pensar as histórias em quadrinhos para além de um saudosismo quarentão, para além de um cultismo tosco e “nerd”, para além do seu jabazinho youtubeiro, para além de um cânone saturado, imbecilizante. Além, meu amigo. Acima de tudo, somos um site de textos, que valoriza a preciosidade de uma ideia bem articulada, não se privando de pensar os quadrinhos como uma forma de comunicação engajada na sociedade, nos outros meios, na história. Quadrinhos como cultura.

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Escrevemos, sim, crítica, mas à moda antiga: com a intenção de que ela reverbere a criação coletiva de um imaginário para as HQs, de que um texto seja uma extensão necessária de outro, de maneira que a riqueza do diálogo entre autores e críticos provoque um crescimento da mídia. Nossos colaboradores são rigorosamente selecionados não apenas por terem domínio de causa, mas também por se proporem a fazer do exercício da crítica uma produção que vá além do comentário leigo, impressionista, que se tornou o resenhismo na internet atual. Uma produção que vá além. Além.

Cartaz de evento vinil + quadrinhos com participação da Raio Laser (2017)

Cartaz de evento vinil + quadrinhos com participação da Raio Laser (2017)

HISTÓRICO DA RAIO LASER

A Raio Laser publicou seu primeiro post, um pequeno comentário do editor Ciro I. Marcondes sobre o clássico Palomar, de Gilbert Hernandez, em abril de 2011. Naquela época, a crítica de quadrinhos brasileira na internet (e, vale dizer, em qualquer lugar) era extremamente rara. A cultura de HQs, por mais que escondesse um universo vasto, rico e complexo, se confundia ainda com “cultismo”: coleções de formatinhos, jogar adedonha com nomes de super-heróis, jovens babando com gibis do Manara, etc.

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É verdade que podemos mencionar iniciativas como o Universo HQ, Guia dos Quadrinhos e alguns outros, que quantificaram e organizaram a produção e publicação de quadrinhos por aqui - além de pioneiros acadêmicos como Álvaro de Moya, Moacy Cirne e Antonio Luiz Cagnin. A ideia da Raio nasceu desta carência: se o cinema possuía lá seus (não tantos) bunkers (ainda que polêmicos) de produção de inteligência no contexto brasileiro (Contracampo, Cinética, Críticos), por que isso não poderia recair também sobre a (cada vez mais reconhecida como) arte dos quadrinhos?

Uma amostra do Alucináticos, infelizmente recuperada pelo Wayback Machine sem sua totalidade.

Uma amostra do Alucináticos, infelizmente recuperada pelo Wayback Machine sem sua totalidade.

O sentido era produzir sim uns textos bem cabeçudos (o perfil inicial do site tinha pegada acadêmica), mas com uma raiz punk, por assim dizer. Poucos sabem, mas a Raio nasceu dos escombros de um outro site, o “Alucináticos - rock sem um puto de decência”, uma pérola da web 1.0 que cobria rock and roll e cinema, entre 2003 e 2006. A vida útil deste “portal” foi pequena, mas, na época, produziu eletrizante sinergia com a cultura roqueira de Brasília, cobrindo shows underground, soltando críticas dilacerantes e produzindo eventos. Ciro Inácio Marcondes e Pedro Brandt, os editores da Raio, vieram do Alucináticos e, querendo afiar a lâmina crítica em outras praias, criaram o blog em 2011, buscando letalidade para o xôxo mundo da recepção de quadrinhos até então. Pode-se dizer que o ímpeto anárquico da Raio foi inspirado na crítica musical, a partir da opinião de jornalistas lendários como Lester Bangs, Greil Marcus e Stephen Thomas Erlewine, além de revistas que fizeram história (Bizz, Mojo, Magnet). No cinema, André Bazin, Pauline Kael, Roger Ebert, Serge Daney, José Lino Grünewald. Muita coisa, enfim.

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É claro que alguns sites gringos (The Comics Journal, The Beat Comics Culture, Read About Comics) serviram de inspiração para o padrão de textos longos, que valorizam a análise crítica/histórica/comunicacional, mas a Raio sempre buscou uma identidade singular, que trouxesse a marca da transversalidade dentro da multiculturalidade dos quadrinhos. Textos que valorizem a estilística, os recursos de outras mídias, a experiência pessoal. Textos que querem ser textos, para leitores que querem ler textos, com todo o ritual que isso exige.

Em princípio, privilegiamos a diversidade geográfica, temporal e de gênero. Era importante falar de Hugo Pratt, como o era de Koike e Kojima, de Schulz, Laerte, Spiegelman. Era importante falar do Superman da era de ouro, assim como o era falar dos quadrinhos de Cynthia Carvalho, a genial e ainda não reconhecida roteirista de Leão Negro. Além disso, cabia observar o início do fértil ciclo atual do quadrinho brasileiro, fazendo observações minuciosas de obras de Rafael Coutinho, Bá e Moon, Lelis, etc., que se tornariam obras de referência. A Raio foi adotando uma postura consciente e intencional de slow publishing, privilegiando sempre a qualidade sobre a quantidade, e confiante num grupo pequeno, mas seleto de leitores.

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Durante os anos seguintes, Ciro ia cobrindo os aspectos mais críticos/teóricos, enquanto Pedro ficava com a tarefa jornalística. Ensaios, crônicas, nostalgia, exposições, entrevistas: tivemos de tudo no ano 2. Aos poucos, a Raio foi agregando colaboradoras e colaboradores externos. Dezenas de pessoas escreveram para o site durante estes anos todos, e colunas, hoje clássicas, se fixaram: “Rapidinhas” e “HQ em um quadro”.

A partir de 2017, a Raio ganha novo impulso com a consolidação de mais três colaboradores fixos que, pode-se dizer, revolucionaram o perfil do site. Marcos Maciel de Almeida, ex-lojista de quadrinhos e aficionado, com análises pessoais e grandes tiradas; o polivalente cineasta/quadrinista/músico Márcio Jr., com texto afiadíssimo; e o onipresente (figura lendária de Brasília) Lima Neto, de perfil intelectual e conhecimento enciclopédico. Tudo isso sempre à sombra da grande Pollyanna Carvalho, nossa brilhante webmaster, responsável por tudo que há de visual e tecnológico no site.

Entre 2017-2019, portanto, a Raio ganha maior diversidade de abordagens, e entra mais propriamente no circuito de cobertura dos lançamentos de quadrinhos (nacionais e estrangeiros), fazendo reverberar suas bem particulares listas de fim de ano, publicando dossiês e resenhas especialmente incisivas (elogiosas ou não), procurando rastrear a produção contemporânea de quadrinhos e fazendo leituras numa conjuntura cultural.

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Mesmo com a sutil mudança de perfil ao longo dos anos, alguns axiomas da Raio permanecem - como não deveria deixar de ser - imutáveis: a pauta é livre, não há obrigatoriedade de cobrir o que recebemos, e qualquer tipo de abordagem (da mais pessoal à mais técnica), é bem-vinda; o texto é valorizado, então a estilística, a capacidade de leitura e o background cultural dos colaboradores são importantes; e a avaliação crítica (quando houver, se isso se aplicar ao texto) não deve levar em consideração nada além dos próprios critérios bem pensados pelo resenhista. Sem estrelinhas. Pensar a crítica por meio da biografia do autor, do mercado ou através de uma estética da recepção, tudo é válido, mas não aceitamos nenhum tipo de jabá.

Em 2019, a Raio Laser sofreu nova reformulação, mudou seu template para o Squarespace, tornou-se mais funcional e responsivo, e algumas ações foram feitas para antecipar a ansiada comemoração de 10 anos completados com muita força de vontade e persistência. Os membros do site, além de terem contribuído, nesse ano, com postagens mais coletivas, muitas de viés político, além de terem uma atuação maior em redes sociais (fundamos nosso Instagram), participaram de publicações, escreveram prefácios de livros e ampliaram sua contrapartida no mercado editorial como um todo.

2020, por fim, marca o primeiro ano da pandemia, e muita coisa foi transformada na Raio, que, diante da tragédia mundial, ganhou injeção de ânimo e colaboração para fazer e transformar coisas, tanto com questões internas quanto na hora de criar conteúdo de qualidade sobre quadrinhos. O podcast, ambicionado há anos pela equipe, finalmente saiu do papel, e soltou 15 programas no ano. O LASERCAST mantém os princípios e convenções da Raio enquanto blog, e em cada programa são discutidos temas que podem ser bem gerais (quadrinhos eróticos, quadrinhos e cinema, quadrinhos e política, etc.) ou específicos (Flavio Colin, Conan, Asterix). O staff varia de acordo com a disponibilidade, com ou sem convidados, mas a ideia de ser um ambiente provocador, com aprofundamento, dinâmica sagaz e bom humor, continua. São discussões longas, que não raro ultrapassam duas horas de duração, para quem anseia por um mergulho profundo mesmo.

Além disso, em 2020 a Raio agregou ao staff fixo mais dois escribas: o famoso designer e professor Bruno Porto, com larga experiência no estudo de quadrinhos, biblioteca ambulante, com seus certeiros pitacos no Lasercast e textos com incrível precisão de pesquisa; e depois a jornalista e tradutora Dandara Palankof, notória em vários cantos da quadrinhosfera, que também calibrou os acalentados debates no Lasercast.

Para 2021, ano em que a Raio completa um decênio, muita coisa está sendo desenvolvida, o que inclui mais e melhores artigos, a continuidade do Lasercast, a publicação do livro ZIP - QUADRINHOS E CULTURA POP, do editor Ciro I. Marcondes, outras publicações do selo MMarte, de Márcio Jr., além de vários eventos para a comemoração da data: vídeos, camisetas, revista, etc. Quadrinhos além!

PS 1: em 2012, quando o site completou 1 ano de existência, realizamos uma festa - jamais repetida - de comemoração junto com a (hoje finada) empresa de ilustração Ilustrativa, que completava 10 anos, no (hoje também finado) “club” do Cult 22, em Brasília. Vendemos o total de 1 (uma) camiseta neste evento, algo de que nos orgulhamos muito!

A altamente esquecível festa de 1 ano da Raio Laser.

A altamente esquecível festa de 1 ano da Raio Laser.

PS 2: em 2015, a equipe (na época Pedro, Ciro e Lima) se juntou para gravar um piloto para o nunca lançado “Lasercast”, o podcast da Raio, que misturaria cultura musical relacionada a quadrinhos (buscando as raízes do Alucináticos) a comentários sobre gibis. O piloto ficou irado, mas, por razões desconhecidas até pelos deuses, nunca foi ao ar. Como se pode ver, o sonho foi realizado em 2020.

PS 3: A Raio possuía dois spin-offs, ou seja, colunas derivadas em outros sites, escritas pelo nosso staff. A primeira delas é a “ZIP - quadrinhos e cultura pop”, que Ciro Inácio Marcondes publicou todas as quintas no Portal Metrópoles, entre 2017 e 2019. O livro com os melhores textos, pela editora do Metrópoles, vai sair em 2021. A outra é a “Guerrilha Pop”, de Márcio Júnior, sobre resistência no pop e congêneres, que era publicada todos os sábados no site do jornal “A Redação”, de Goiânia, 2018 e 2020.

PS 4: Ciro e Pedro oferecem, com alguma regularidade (em Brasília), o curso em seis aulas “História das Histórias em Quadrinhos”, que tem um compromisso com a missão “além” da Raio e cobre as principais escolas de HQs mundiais.

Cartaz do primeiro curso “História dos Quadrinhos: Trajetória de uma Arte Sequencial”, ministrado pelos editores da Raio Laser

Cartaz do primeiro curso “História dos Quadrinhos: Trajetória de uma Arte Sequencial”, ministrado pelos editores da Raio Laser

Uma aula de quadrinhos!

Uma aula de quadrinhos!

MISSÕES DA RAIO LASER

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CULTO aos quadrinhos: a leitura dos quadrinhos enquanto fã, colecionador, entusiasta. É comum que, na internet, este seja um dos únicos enfoques ressaltados na escrita sobre as HQs, já que, investindo sua inteligência e vitalidade em uma arte historicamente marginalizada, o leitor precisa refugiar-se em pequenos guetos e microculturas para poder encontrar ressonância em seu objeto de entusiasmo. Na década de 2010, esses guetos se projetaram para as massas, e o culto se tornou asséptico e generalizado, o que implica ainda mais na necessidade de formação de leitores de quadrinhos “além”. Respeitar, ampliar e transitar entre estas diferentes culturas faz parte do projeto RAIO LASER.

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HISTÓRIA dos quadrinhos: o resgate da vastíssima história mundial desta forma de arte é ainda um trabalho que vem sendo feito de maneira isolada e inconstante pela internet. Mesmo assim, na medida em que trabalhos acadêmicos e jornalísticos procuram sistematizar linhagens diversas de produção em HQ, produções perdidas no tempo e na geografia do mundo vêm à tona para mostrar que as interinfluências em HQ são muito mais imprecisas, indiretas e fortuitas do que se pensa, tornando cada descoberta imprevisível e admirável. O mundo da arqueologia em HQ é um mundo de constante descoberta de obras-primas isoladas e perdidas.

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CRÍTICA e TEORIA dos quadrinhos: a resenha crítica, o comentário teórico, a apreciação impressionista ou pessoal, as abordagens inesperadas, as relações com outras formas de expressão, tudo cabe à reflexão provocada pela leitura de obras em quadrinhos, e essas reverberações são uma constante nas publicações do site. HQs de todos os tempos, todos os lugares, todos os gêneros, com o bom gosto sendo o único critério.

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COBERTURA JORNALÍSTICA dos quadrinhos: o ato de acompanhar os lançamentos, a pesquisa em publicações antigas, a entrevista, a busca por personagens que construíram a história ainda em construção desta forma de arte, tudo isso e mais compete ao trabalho jornalístico proposto pelo site.


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SOCIALIZAÇÃO a partir dos quadrinhos: enquanto objeto de interesse crescente de diversos grupos espalhados pela internet e outros meios, RAIO LASER também se propõe a ser um espaço de discussão, problematização, socialização e troca de informações sobre HQ. Assim, a interação via internet e redes sociais, com o propósito de agregar e produzir sinergias com nossa política de abordagem, é algo que vem sendo trabalhado nestes anos todos, com o site aberto a contribuições e todo tipo de troca.

POR QUE OS QUADRINHOS?

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1 - Quadrinhos não são uma forma de arte nova, apesar de sua forma moderna ter surgido junto ao cinema no final do século 19. Quadrinhos estavam presentes na linguagem de povos paleolíticos, astecas, egípcios, e muitos outros. Quadrinhos são uma forma arcaica de comunicação, e nunca deixarão de existir, mesmo que seu nome ou atribuições sociais mudem.

2 - Quadrinhos fazem parte de um circuito transmídia comunicacional poderoso, que faz circular bilhões de dólares no mundo inteiro, sendo um participante ativo do jogo global que envolve a economia da cultura. Sua influência não pode ser desprezada como algo que modifica tudo o que vivemos e fazemos.

3 - Os quadrinhos foram renegados por regimes políticos, estéticos e morais durante o século 20. Sua periculosidade (enquanto discurso, enquanto comunicação e enquanto arte) foi logo detectada nas primeiras décadas de existência, e seu conteúdo foi controlado - com medo de uma possível interferência na mentalidade juvenil - durante quase todo o século passado. Os quadrinhos merecem e precisam da renaissance pela qual vêm passando nas últimas décadas.

4 - Mesmo que nem todos saibam disso, a cultura de quadrinhos é tão vasta e rica quanto a da literatura, do cinema ou da música no século 20, porém o alcance desta diversidade é menor, graças à sua guetização e estigmatização. Abrir o mundo das HQs a todos é abrir uma dimensão inteira, uma mídia na qual se pode mergulhar a vida toda. É abrir uma nova lente de leitura do mundo.

5 - Por que os quadrinhos? Porque, em sua natureza ainda primitiva e essencial, são a arte mais importante para este século 21.

Equipe Raio Laser (quase) completa! Da esquerda para a direta: Márcio Jr., Lima Neto, Pedro Brandt, Ciro I. Marcondes e Marcos Maciel de Almeida. Foto por Thaís Mallon.

Equipe Raio Laser (quase) completa! Da esquerda para a direta: Márcio Jr., Lima Neto, Pedro Brandt, Ciro I. Marcondes e Marcos Maciel de Almeida. Foto por Thaís Mallon.