FESTIVAL DE ANGOULÊME 2024: COBERTURA RAIO LASER + EUROCOMICS!

FESTIVAL DE ANGOULÊME 2024: COBERTURA RAIO LASER + EUROCOMICS!

por Bruno Porto

O site Raio Laser e o canal Eurocomics voltam à França para cobrir, mais uma vez, o Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, cuja 51ª edição acontece entre 25 e 28 de fevereiro deste ano.

Um dos três maiores festivais de quadrinhos do mundo, o Festival de Angoulême espalha-se por esta bela cidade de 40 mil habitantes em seis grandes pavilhões, dezenas de exposições, palestras & mesas redondas, sessões de autógrafos, masterclasses, análises de portfólio e feira de negócios, reunindo centenas de integrantes da cadeia produtiva de quadrinhos do mundo inteiro.

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LASERCAST #54: A INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRINHO BRASILEIRO

LASERCAST #54: A INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRINHO BRASILEIRO

Recém chegados de uma histórica participação na também histórica 50ª edição do Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, na França, a coordenadora de projetos da Bienal e do projeto Brasil em Quadrinhos do MRE, Luciana Falcon, e o jornalista, tradutor e curador dos catálogos Brasil em Quadrinhos, Érico Assis, conversaram conosco sobre os esforços de internacionalização do Quadrinho Brasileiro, políticas públicas, auto-censura, o papel das editoras brasileiras, e as estratégias traçadas para que leitores de comics, bande dessinée e historietas passem a ler também histórias em quadrinhos.

Participaram do episódio: Pedro Brandt, Bruno Porto, Marcão Maciel, Márcio Júnior e os convidados Érico Assis e Luciana Falcon.

Edição: Eder Freire.

Disponível em: SPOTIFY, APPLE PODCASTS, GOOGLE PODCASTS, CASTBOX, ANCHOR, BREAKER, RADIOPUBLIC, POCKET CASTS, OVERCAST, DEEZER

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SUPER-HERÓIS À FRANCESA: AS TRADUÇÕES VISUAIS DE JEAN FRISANO

SUPER-HERÓIS À FRANCESA: AS TRADUÇÕES VISUAIS DE JEAN FRISANO

Finalmente! A estreia do designer gráfico, professor e pesquisador de quadrinhos Bruno Porto na Raio Laser.

O Festival d'Angoulême homenageia um discreto quadrinista que consegue a façanha de ser tão admirado quanto desconhecido: falecido aos 60 anos, em 1987, Jean Frisano foi o responsável por apresentar aos franceses centenas de personagens estadunidenses de Aventura, Ficção Científica e Super-Herói, construindo uma ponte entre duas culturas.

por Bruno Porto

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O assassinato político mais popular da história dos EUA: uma entrevista com Derf Backderf sobre Kent State

O assassinato político mais popular da história dos EUA: uma entrevista com Derf Backderf sobre Kent State

Um bate-papo com o premiado quadrinista Derf Backderf durante o Festival de Angoulême 2020 sobre sua próxima graphic novel, Kent State: Four Dead in Ohio, que recria o episódio em que soldados da Guarda Nacional estadunidense abriram fogo contra estudantes que protestavam contra a Guerra do Vietnã, resultando em 4 mortos.

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Pinóquio das trevas

por Pedro Brandt

“A história a seguir é uma adaptação bastante livre do romance de Carlo Collodi”, avisa o roteirista e desenhista Winshluss antes da primeira pagina ilustrada de sua versão em quadrinhos para Pinóquio. Nas mãos deste artista francês (nascido Vincent Paronnaud, em 1970), a marionete que ganha vida não é de madeira e seu nariz não cresce se ele mentir. O boneco também não tem fada madrinha, um pai carinhoso preocupado com ele ou um grilo falante fazendo papel de consciência.

Se tanto a obra de Collodi quanto a animação feita a partir dela pelos estúdios Walt Disney pregavam lições visando o bom comportamento dos petizes, Winshluss apresenta em 183 páginas uma visão sombria do mundo que nada tem de conto de fadas. Uma publicação, definitivamente, não recomendado para crianças — mas indicada para quem quiser conhecer uma das mais impressionantes HQs francesas em anos recentes, vencedora do prêmio máximo no festival de Angoulême em 2009. À qualidade do conteúdo, soma-se o ótimo acabamento editorial, com capa dura, papel de alta gramatura, impressão impecável e uma adaptação muito bem-feita da tipografia original.



Com uma trajetória ainda curta nas histórias em quadrinhos, Winshluss é mais conhecido pela premiada versão em longa metragem de animação da HQ Persépolis (cuja autora, Marjane Satrapi, assina com ele a direção do filme). Essa relação com a sétima arte ajuda a entender a habilidade do francês como narrador visual. Boa parte de Pinóquio é contada com imagens, sem balões de fala — é com olhares, movimentos e expressões, acompanhados de diversos recursos gráficos, que ele comunica, com excepcional eficácia, ações, ideias e intenções. Os diálogos ficam reservados para as sequências (algumas, hilárias) estreladas por Jiminy Barata, o Grilo Falante da vez. O inseto, um escritor boêmio e em crise que mora na cabeça de Pinóquio, mais parece a cigarra preguiçosa da fábula de Jean de La Fontaine.

Autômato

Winshluss pontua a história com tramas paralelas, que vão se amarrando com o passar das páginas. O leitor é apresentado a intrigas, assassinatos, tráfico de órgãos e violência doméstica. O Pinóquio de Winshluss foi criado por um Gepeto que de bonzinho tem apenas a aparência. Feito de peças robôticas, o menino pode realizar de tarefas domésticas a ataques militares, mas é um autômato (aparentemente) sem vontade própria ou sentimento.

Solto no mundo, o protagonista é manipulado por todos que cruzam seu caminho. E são esses personagens — em geral, perversos, gananciosos ou perturbados — que vão guiando a história, caso da dupla de mendigos (um trapaceiro, outro cego e fanático religioso), do menino de rua que vira amigo de Pinóquio, do policial depressivo e alcoólatra, dos sete anões pervertidos, do monarca vaidoso e do industrial que explora trabalho infantil. Se tem uma lição que Winshluss dá com seu Pinóquio é que, no meio de tanta escuridão, só se chega à redenção com sentimentos puros.

Pinóquio
De Winshluss. 192 páginas. Editora Globo. Preço R$ 75.


Fantasia cotidiana






















por Pedro Brandt

O prêmio de revelação dado em 2009 a Bastien Vivès no Festival de Angoulême — evento francês dentre os mais relevantes para as histórias em quadrinhos na Europa — colocou em evidência o talento do jovem autor e da obra pela qual ele foi premiado na ocasião, O gosto do cloro (Le goût du chlore). Publicada originalmente em 2008, ela acaba de chegar ao Brasil pelo selo Barba Negra (ligado à editora Leya). Independente de distinções e honrarias, o trabalho merece ser conhecido por seus méritos próprios. É, desde já, um dos melhores lançamentos do ano.


Se o leitor quiser chegar logo ao final da história, consegue passar pelas 140 páginas em 15, 20 minutos. No entanto, cada uma delas é um deleite visual, permitindo uma leitura mais demorada, atenciosa e, consequentemente, mais prazerosa. Todo os elementos apresentados ali são preciosos, desde a escolha das cores (o verde e o cinza, em diversos tons, estão em toda parte), as angulações das cenas, as expressões dos personagens e, especialmente, como o desenhista consegue causar a sensação da passagem do tempo ao longo da narrativa. Os silêncios e tempos mortos são detalhes muito bem explorados pelo autor. Isso talvez se explique pala formação de Bastien Vivès: o francês de 28 anos é graduado em artes plásticas e cinema de animação. Se ele quiser transformar O gosto de cloro em curta-metragem, já tem pronto um minucioso story board.

Amizade na água

Em nenhum momento da HQ são apresentados os nomes dos personagens e as informações sobre eles são praticamente inexistentes. Nem precisaria ser diferente, já que no desenrolar da breve história os poucos diálogos são o suficiente para causar empatia.

A HQ começa em uma sessão de fisioterapia. O protagonista é aconselhado a praticar natação para melhorar seu problema nas costas. A pouca habilidade para nadar, a solidão na piscina (e o tédio decorrente dela) fazem com que ele pense em desistir.

 A situação muda quando o personagem finalmente conhece uma nadadora. O rapaz já a observava havia algum tempo. A moça o ajuda com dicas sobre natação. Ele quer conhecer um pouco mais sobre ela, faz perguntas. Ali na piscina, nasce uma amizade. Eles brincam, nadam e conversam. A natação, antes um fardo, ganha outra dimensão na rotina do protagonista.

A partir de um determinado momento na narrativa, preencher as lacunas deixadas por Bastien Vivès fica a cargo do leitor. Um relato bastante cotidiano até então, O gosto do cloro ganha, nas últimas 21 páginas, leves ares de fantasia. A sequência final — que pode ser encarada como uma metáfora sobre o inalcançável — é de tirar o fôlego, literalmente.

O gosto do cloro
De Bastien Vivès. 144 páginas. Barba Negra/ Leya. R$ 39,90.