LASERCAST #57 - Resenhão Geral #05: Gibi Deprê

LASERCAST #57 - Resenhão Geral #05: Gibi Deprê

Em mais uma seleção especialíssima de resenhas (as melhores de HQ da internet brasileira, confia), cinco raiukas falam sobre 13 gibis que flertam com o tema da melancolia. Com a categoria de sempre! Segue a lista: MÃO VERDE – Nicole Claveloux e Édith Zha (Comix Zone), SOCIAL FICTION – Chantal Montellier (Comix Zone), 100 NOITES DE HERO – Isabel Greenberg (Darkside), NECTARINA – Lee Lai (Veneta), GEORGE SPROTT – Seth (Mino), PAI DE MENTIRA – Joe Olman (Comix Zone), CHARTWELL MANOR – Glenn Head (Comix Zone), CLEAN BREAK – Felipe Nunes (Balão Editorial), O PROCURADOR – Jean Franco Manfredi e Pedro Mauro (Pipoca & Nanquim), NA MENTE DE SHERLOCK HOLMES – Cyril Lieron e Benoit Dahen (Pipoca & Nanquim), CRIMINAL – O ÚLTIMO DOS INOCENTES – Ed Brubaker e Sean Phillips (Mino), LOVECRAFT – Hans Rodionoff, Enrique Breccia e Keith Giffen (Comix Zone), PING PONG – Tayo Matsumoto (JBC).

Participaram do episódio: Ciro Inácio Marcondes, Lima Neto, Márcio Júnior, Pedro Brandt, Marcão Maciel.

Edição: Eder Freire

Disponível em: SPOTIFY, APPLE PODCASTS, GOOGLE PODCASTS, CASTBOX, ANCHOR, BREAKER, RADIOPUBLIC, POCKET CASTS, OVERCAST, DEEZER

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Lovecraft: uma sombra à frente de seu tempo

Lovecraft: uma sombra à frente de seu tempo

por Marcos Maciel de Almeida

HP Lovecraft (1890-1937), quem diria, tornou-se um fenômeno pop. Seja pelas inúmeras adaptações de sua obra que invadem as livrarias ou pelo recente sucesso da série de TV Lovecraft Country, o fato é que a literatura e as criações do escritor de Providence (EUA), justamente considerado um dos maiores nomes da ficção de horror mundial, encontram-se espalhadas pelas principais mídias de entretenimento. Exemplo simplório disso é minha reaproximação com sua obra, cujo gatilho foram os três episódios em sequência de South Park de 2010 nos quais os heróis da série enfrentam a criação máxima de Lovecraft, o milenar e inescrutável Cthulhu. Daí para comprar um compêndio com seus greatest hits foi um pulo. Coincidentemente, logo na semana seguinte embarquei para uma viagem de trabalho para a Armênia. Ler o calhamaço de quase mil páginas na madrugada do país caucasiano num apartamento em que ocorreram eventos inexplicáveis foi uma experiência no mínimo interessante, que não será relatada aqui por motivos de fuga ao tema.

No dia em que escrevo estas mal traçadas linhas, atrevo-me a dizer que Lovecraft conseguiu a façanha de ter se tornado mais famoso que seu predecessor e ídolo Edgar Allan Poe. Inspiração inegável, Poe influenciou formato (contos curtos e longos) e tipo de narrativa (de caráter fortemente pessoal elaborada invariavelmente em primeira pessoa) de seu discípulo. Reza a lenda que o fascínio de Lovecraft por seu ídolo era tão grande que o primeiro chegara a visitar as casas frequentadas por Poe, ocasiões em que tinha episódios de convulsão, visões e momentos de epifania.

Outra trágica similaridade que aproxima essas duas lendas da literatura fantástica é o reconhecimento tardio e póstumo. Tendo morrido numa pindaíba desgraçada, Lovecraft certamente ficaria admirado ao descobrir que suas criações se tornaram apreciadas pelas massas, como se pode verificar ao encontrá-las por aí em diversas formas de expressão artística, como música, cinema e jogos eletrônicos. Muito ajudou para esse fenômeno o fato de que parte considerável da obra do norte-americano tenha entrado em domínio público, o que contribui para a disseminação facilitada de seu legado. Claro que o talento do escritor – pai do gênero conhecido por “Horror Cósmico” – não passaria despercebido pelo crivo dos grandes da nona arte. Quadrinistas de renome como Alberto Breccia, Esteban Maroto e Dino Battaglia, entre outros, renderam incríveis homenagens ao trabalho de Lovecraft, recriando com autoralidade as clássicas histórias que assombram os pesadelos de leitores há mais de um século, em todo o mundo. Para além da seara cultural, a obra de Lovecraft transformou-se, também, em fonte importante para escritos de cunho religioso/ocultista.

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ENSAIOS LOVECRAFTIANOS

ENSAIOS LOVECRAFTIANOS

A coisa mais misericordiosa do mundo, ao meu ver, é a inabilidade da mente humana em correlacionar todos os seus conteúdos. Vivemos em uma plácida ilha de ignorância em meio a obscuros mares de infinidade, e não nos é possível viajar muito longe. As ciências, cada uma se esticando em sua própria direção, pouco nos afetaram até agora; mas algum dia o agrupamento deste conhecimento dissociado irá abrir visões tão aterrorizantes da realidade, e de nossa assustadora posição nela mesma, que iremos ou padecer da loucura oriunda da revelação, ou fugir da luz em direção à paz e segurança de uma nova era das trevas.

Assim, desta maneira intrigante e oracular, começa o conto/novela O Chamado de Cthulhu, escrito por Howard Phillips Lovecraft em 1926 e publicado na revista pulp Weird Tales em 1928. Famoso, esse parágrafo dá conta de muito do que se associa à literatura lovecraftiana, que se tornou base para o culto cada vez mais crescente ao gênero do terror, seja no cinema, nos quadrinhos, em games ou nos próprios contos e romances. O que há ali que já nos prenuncia uma ambientação psicológica típica da originalidade deste autor tão singular?

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