Especial Editora Mino #2: A Missão
/O negócio é o seguinte: a Editora MINO segue aprontando, lançando material de primeira com o acabamento que HQs de respeito merecem. A gente segue trabalhando aqui, procurando ler e desvendar os mistérios destas publicações. Assim, quem ganha é o nosso leitor, com mais seis resenhas que desbravam as fronteiras das mais interessantes publicações nacionais (e além). Mesmo esquema do nosso primeiro especial. Outras editoras, se liguem! (CIM)
Caso queira enviar seu material para ser resenhado na Raio Laser, o endereço é o seguinte:
RAIO LASER
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Brasil
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por Ciro I. Marcondes, Marcos Maciel de Almeida, Márcio Jr. e Lima Neto
O Soldador Subaquático – Jeff Lemire (Mino, 2016, 228 págs.): O canadense Jeff Lemire é um quadrinista de fronteira. Transita com desenvoltura entre o mainstream (leia-se Marvel/DC) e o quadrinho autoral. No Brasil, é tão conhecido por Sweet Tooth, sensível HQ da Vertigo, quanto por seus trabalhos com medalhões super-heroísticos – vide Old Man Logan, Homem-Animal, Superboy, X-Men e até o bombadão Thanos (desenhado pelo brazuca Deodato Filho, ops... Mike Deodato Jr.).
O Soldador Subaquático, graphic novel lançada pela Mino, encampa com veemência essa faceta mais autoral de Lemire. E cai como uma luva no belo catálogo da editora. Jack vive em uma remota cidadezinha próxima a uma plataforma marítima de extração de petróleo. Ali, trabalha como soldador subaquático, profissão de altíssimo risco. Sua esposa está às vésperas de dar à luz seu primeiro filho. O pai, alcóolatra – e também mergulhador – faleceu há muitos anos, em um acidente obscuro. A relação com a mãe, atravessada por esta tragédia do passado, é complexa – para dizer o mínimo. Este é o cenário no qual se desenvolve a narrativa, conduzida com brilhantismo por Jeff Lemire. Em sua introdução, Damon Lindelof (cocriador da série Lost e produtor executivo envolvido com os recentes Jornadas nas Estrelas e Prometheus) trata O Soldador Subaquático como uma versão contemporânea do clássico seriado Além da Imaginação. Comparação pobre. A HQ é um profundo tratado sobre relações familiares, memória e os dilemas de se tornar pai/deixar de ser filho – temas caros a Lemire e que já haviam sido tratados, sob outra perspectiva, em Sweet Tooth. Na estante, O Soldador Subaquático ficaria muito bem ao lado de Umbigo sem Fundo, de Dash Shaw. Mas Dash Shaw não escreve super-heróis – o que faz com que o livro do canadense forneça outros pontos de vista sobre as fronteiras existentes entre os diferentes gêneros de histórias em quadrinhos.
Formalmente, o que Jeff Lemire exibe em O Soldador Subaquático é um preciso domínio da linguagem quadrinística. A história avança e recua conforme suas intenções narrativas. Há uma ausência completa de redundância. Os personagens são carregados de alma e profundidade. O mais intrigante é que o autor consegue isso lançando mão de um desenho muito simples, de poucos recursos, urgente, quase taquigráfico.
Não há subterfúgios no traço de Lemire. O álbum sequer conta com as vistosas cores presentes em Sweet Tooth. No máximo a aguada, também urgente, pouco elaborada. O artista não parece nada preocupado em escamotear suas deficiências técnicas (anatomia, perspectiva e quetais). Ao contrário, parece eviscerá-las. Em O Soldador Subaquático, Jeff Lemire encara os desafios de se apresentar nu. Ao olhar do leitor médio de super-heróis, provavelmente lhe falte algum botox e litros de silicone.
Isso talvez explique porque, na Marvel/DC, Jeff Lemire esteja confinado ao papel exclusivo de roteirista. É como se estivesse estabelecido que seu desenho não é “profissional” o suficiente para a indústria de super-heróis. Daí que, apesar de ser um quadrinista de fronteira, que transita entre o autoral e o mainstream, Lemire – por forças alheias à qualidade do seu trabalho – não consegue diluir estes limites. No autoral, é um autor. Na indústria, é o funcionário do mês. Sua posição é sintomática da atual incapacidade dos quadrinhos de super-heróis conduzirem seus leitores a novas experiências com outros tipos de quadrinhos, como por exemplo a BD europeia, o mangá japonês e o quadrinho sul-americano.
A Mino prometeu para o início do segundo semestre a publicação de The Complete Essex County, outro tijolaço autoral de Lemire. Maravilha. Até lá, seria interessante que seus leitores do universo Marvel/DC se dessem a oportunidade de conhecer O Soldador Subaquático. Em última instância, não é que o desenho de Jeff Lemire seja amador para o mainstream. Mas sim que este mesmo mainstream talvez não tenha um público com o olhar um pouco mais amplo para acessar o que de melhor o quadrinista tem a oferecer. (MJR)
Você é um Babaca, Bernardo – Alexandre S. Lourenço (Mino, 2016, 132 p.): Fosse um filme (coisa que dificilmente seria), poderíamos dizer que Você é um Babaca, Bernardo está obcecado com a continuidade. Afinal, a despeito de toda a complexidade formal imaginada para este estranho quadrinho, é o seu apego à micronarrativa – como pequenas bolhas de som que encontramos quando ouvimos Daft Punk ou Spoon em fones de ouvido –, e aos detalhes quase imperceptíveis espraiados no curioso passar do tempo; é nestes pontos que a HQ se sustenta. Interessa-nos mais, aqui, como narrativa, qual quadro está pregado na parede ou qual roupa o personagem veste no dia de chuva, do que o modesto romance que se apega ao plot principal. Não que isso importe muito. Às vezes a experiência da arte é mesmo vasculhar a engrenagem e a engenharia da beleza. Ninguém liga muito, hoje em dia, para o discurso revolucionário de Eisenstein, mas todos admiram sua maneira de erigi-lo.
Alexandre Lourenço foi caçado na Internet (a partir de seu site “Robô Esmaga – Quadrinhos Miúdos” – sugestivo, não?) pela Mino, e Você é um Babaca, Bernardo de certa forma se tornou um hit no nosso meio, ganhando prêmios e figurando em listas. Peguei o livrinho com imensa curiosidade, o trabalho é minucioso e delicado, mas certamente não é essa cocada toda. Com influência clara dos papas do quadrinho experimental norte-americano (Chris Ware e Richard McGuire), além de uma pontinha de Rafael Sica (sem sua poesia), esta HQ prima por um experimentalismo bem calculado.
Em primeiro lugar, há duas ordens de leitura na primeira parte (podemos ler sequencialmente ou um quadrinho por página, acompanhando os dias monótonos do personagem). Como nos quadrinhos de Ware, o procedimento todo é curioso, intelectualmente concebido, um experimento. Também como nos quadrinhos de Ware, esta forma intrincada e microscópica de se fazer e ler HQs deságua sempre na temática do tédio, da repetição mecânica, da solidão moderna. Me pergunto por que toda micronarrativa experimental em quadrinhos precisa ter personagens tão enfadonhos quanto Bernardo e Gabriela, os protagonistas do morno romance aqui representado.
Não que fazer um romance gráfico com excesso de traços formalistas não tenha lá seu charme. Lourenço se utiliza de diversos outros recursos interessantes, como garranchos e cores representando mensagens de texto, o uso pontual e preciso dos close-ups, além de certos momentos mais livres (desgarrados do sistema proposto no começo – o que indica que, em certo momento, o autor jogou o planejamento às traças) em que praticamente em cada página temos um arranjo de leitura diferente.
É quadrinho em laboratório, que procura produzir reflexão sobre modos modernos de solidão e amor, mas que insiste em chamar atenção para sua fábrica formal a cada instante, não deixando o sentido efetivamente se libertar. Lourenço, em certos momentos, até mesmo resiste a fazer uma arte propriamente sequencial (o nome mais acadêmico dos quadrinhos) para produzir uma arte de imagens em simultaneidade. Como se saísse de um “eixo sintático x” (da narração) e fosse para um do “eixo paradigmático y” (da mostração e da acumulação poética).
Lourenço é um talento, sem dúvida, e Você é um Babaca, Bernardo é inventivo e bem engendrado. Vai agradar aos geeks do experimental matemático e aos fãs do Chris Ware que começaram a ler quadrinhos em 2009, mas, para mim, de certa forma, quando a cabeça do personagem se esvai naquelas cenas surrealistas, escapa pelo buraco no pescoço também a alma deste quadrinho. (CIM)
The Shaolin Cowboy – Geof Darrow (Mino, 2016): Geof Darrow é um artista do tipo maníaco obsessivo, que adora criar cenas incrivelmente detalhadas. Sabe aquela coisa de desenhar a perna peluda da mosca em cima do cocô do cavalo do bandido? É mais ou menos por aí... E o novo lançamento da Mino, Shaolin Cowboy, é uma prole fidedigna do estilo Geof Darrow de fazer gibis. Aliás, é mais do que isso. Pode-se dizer que Shaolin Cowboy é o gêmeo separado no nascimento de seu irmão mais velho, Hard Boiled, escrito por Frank Miller e lançado em 1990. Vinte e seis anos depois o caçulinha chegou no Brasil chutando bundas, mas isso é assunto para daqui a pouco. Falemos, por enquanto, do primogênito.
Hard Boiled é o suprassumo do gibi bagaceira, numa história que combina doses cavalares de violência, sucata, lixo e destruição. O detalhismo presente no traço de Darrow era – e continua sendo – enlouquecedor e levou a nona arte a um novo patamar. Quem ainda duvidava que quadrinhos também eram coisa de gente grande deve ter ficado sem argumento diante das cenas de apocalipse urbano meticulosamente ilustradas por Darrow. Arrisco dizer que ele é um dos precursores do hiper-realismo nos gibis. Eis um artista capaz de criar imagens tão perfeitas que são quase mais reais que a própria realidade. Apesar disso, o clima da revista é aquele típico de vídeo games vida loka, estilo GTA, especialmente pela gostosa sensação de estar breaking the law, ainda que de mentirinha. Outra coisa que lembra jogos de ação é o ritmo acelerado. Em Hard Boiled tudo é tão apressado e intenso que os personagens, objetos e páginas parecem estar gritando o tempo todo.
Hard Boiled
E este talvez seja o grande contraste com Shaolin Cowboy, pelo menos em parte. Se a ação em Hard Boiled é urbana, com requintes de confinamento, a trama de Shaolin Cowboy, não menos sufocante, ocorre em espaços abertos, num deserto habitado por jacarés, tartarugas e gatos. Metal e vidro dão lugar a carne e sangue, também em quantidades generosas. Se, no gibi anterior, Miller imaginou uma metrópole barulhenta e densamente habitada, Darrow, agora alçado à condição de roteirista/desenhista, optou por uma narrativa que tem por testemunha o silêncio dos personagens e das locações.
Mas, afinal, do que se trata o gibi? Bem, é a aventura de um cowboy shaolin no deserto tentando salvar a pele durante um ataque zumbi. E é interessante notar as escolhas do Darrow roteirista para contar esta história. As primeiras duas páginas contêm uma recapitulação do que havia ocorrido antes do início da revista, num texto enorme com letra pequena. Já a HQ em si tem inúmeras páginas sem diálogos, compensadas, em contrapartida, por violência e pancadaria quase hipnóticas. A opção pela marcação do fluxo da narrativa fica, portanto, evidenciada, já que o autor começa com um ataque verborrágico que logo é substituído por um storytelling que funciona como um voto de silêncio, no melhor estilo zen budista.
Também como em Hard Boiled, Shaolin tem como prerrogativa a estética do exagero. Tudo é grandioso e colossal. Mutilações, decapitações e mortes dão as caras em escala industrial e são mostradas com precisão sádica. Muito contribui para isso a arma utilizada pelo protagonista – uma vara de bambu com uma motosserra em cada extremidade – para detonar os pobres dos mortos-vivos. E Darrow parece ter prazer especial em triturar os “walkers”, já que passa a maior parte do gibi eliminando-os de tudo quanto é forma possível. Lembra que eu falei que Darrow é maníaco? Então, quando ele resolve dar voz a suas obsessões, sai de baixo... Prepare-se para encarar páginas e mais páginas de um holocausto zumbi, ou melhor, um holocausto de zumbis, que funciona como uma espécie de exorcismo para o autor. É um verdadeiro desbunde de tripas e miolos voando para tudo quanto é lado. Se Miller pôde fazer terapia semelhante em Hard Boiled, com inúmeras cenas de carros destruídos, metal retorcido e caos generalizado, Darrow também não quis ficar atrás e promoveu uma festa gore de responsa.
E confesso que não poderia culpá-lo por ter feito o que fez. Atire a primeira pedra quem nunca quis sair dando porrada – sem mais nem menos – numa multidão zumbi. E o shaolin cowboy, grande responsável pela matança (?) dos cadáveres ambulantes, faz seu “trabalho” de forma abnegada e disciplinada, com a mesma tranquilidade que teria se estivesse na fila para comprar pão, afinal os problemas terrenos são meros obstáculos no caminho da iluminação.
No fim das contas só posso elogiar a Mino pela escolha do título e pela belíssima edição em capa dura. Os loucos fãs do maníaco Darrow agradecem. (MMA)
Hermínia – Diego Sanchez (Mino, 2015): Certos relacionamentos são bastante autodestrutivos, mas talvez sejam a única saída para almas perdidas como as de Hermínia e Arcádio. Essa é – ou parece ser – a premissa da HQ de Diego Sanchez. Digo "parece ser" porque a vibe onírica é uma constante no decorrer das páginas. O tom de incerteza sobre o que seria real ou ilusório está presente tanto no roteiro quanto nos desenhos, que têm uma pegada – intencional – de rascunho, como que para retratar a dimensão que enxergamos quando sonhamos, ou seja, aquela percebida sob um ponto de vista construído por esboços e, não raro, fora de foco.
Isso não quer dizer que o traço seja simplório, muito pelo contrário. Sanchez conseguiu encontrar o equilíbrio entre a fugacidade onírica, no desenho dos personagens, e a realidade quotidiana, na fotografia do quadrinho. Assim, as imagens das ruas e das casas – detalhadamente registradas – são a âncora que garantem a permanência do casal no plano dos despertos. Outro fator de desorientação – novamente premeditado – é o fato de a história ser contada fora da ordem cronológica, com diversos saltos para frente e para trás. E o efeito disso é a sensação de estar preso em um momento único, no qual todas as ações têm a sua importância e parecem transcorrer simultaneamente. Mas é uma pena que o autor não tenha achado outra solução para a inserção dos flashbacks e dos flashforwards que não fosse a utilização de páginas magenta chapadas espremidas entre os capítulos. O problema da utilização desse recurso foi a excessiva quebra de ritmo da narrativa, por demais brusca em determinados momentos.
A história de amor entre Hermínia e Arcádio, permeada por excessos de paixão e prazer, é caracterizada pela necessidade frequente de reafirmação do romance, requisito que é levado às últimas consequências. A chaga de Arcádio é sua obrigação de ter que provar a todo instante sua devoção a Hermínia que, por sua vez, se sente atraída pela aura de mistério do parceiro. E sobre este último, marcado para sempre com uma grande cicatriz sobre o nariz, há uma curiosidade, revelada de forma sutil. A ferida, na verdade, foi resultado de uma brincadeira inventada por seu irmão mais velho, que se tornaria tatuador. Pode-se dizer, assim, que o primogênito já era uma pessoa predestinada a deixar marcas na pele dos outros.
Gostei muito do capricho na produção do gibi, especialmente a gramatura das páginas e a ilustração da capa (dura). Apesar disso, creio que houve certa incoerência entre o luxo da edição e o tom despojado que a história se propõe a ter. Outra coisa que incomodou é o que costumo chamar de "síndrome do cinema brasileiro", ou seja, a constante prática de preencher o vazio com uma suposta profundidade. Explico. Muitas vezes os autores são obrigados a ocupar espaços na trama para aumentar o volume de suas obras, como se tamanho e duração de determinado produto resultassem, automaticamente, em maior credibilidade.
E isso pode gerar mais problemas que soluções. É o que acontece com Hermínia. Sanchez podia ter enxugado o número de páginas, deixando a trama com menos pontos de interrogação, no melhor estilo "menos é mais". Optou, entretanto, por esticar a história e inserir mensagens e cenas de difícil interpretação, especialmente no final da trama. Ok, talvez o desfecho não tenha que ser necessariamente cartesiano, com tudo detalhadamente explicado, mas confesso que fiquei com a impressão de que o autor ficou diante de uma encruzilhada para conseguir encerrar a história. E a solução encontrada foi carregar na dose de mistério e simbologia, fato que conferiu hermetismo indesejado ao gibi. (MMA)
Fungos – James Kochalka (Mino, 2016): Terrece Mckenna - o xamã psicodélico da geração rave – teorizou, após uma experiência particularmente forte com o cogumelo psilocibina, que alguns tipos de fungos são um mecanismo de comunicação cósmica lançado no espaço por uma raça primordial e que seu consumo permitia a comunicação com os deuses. Em seu melancólico livroA Transmigração de Timoty Archer, Phillip K. Dick mostra que a verdade por trás da experimentação da presença do espírito santo nas sociedades cristãs primitivas era obra de um fungo que nasce nas cavernas áridas da região de Jerusalém. Para muitos estudiosos, os seres vivos do reino fungi têm um papel seminal no desenvolvimento do ser humano na terra. Estes não são os fungos que encontraremos no gibi Fungos do norte-americano James Kochalka. O incensado autor, que estreia no Brasil nesta bem cuidada edição da Mino, é conhecido nos EUA por uma variedade de trabalhos, dos mais sensíveis aos mais humorísticos.
Embora os personagens de Fungos não sejam os cogumelos de Mckenna, estas divertidas criaturas passam boa parte do seu tempo se preocupando com a comunicação. Seja tentando entender as intenções de Deus, ou fingindo ser os desenvolvedores do Facebook, os fungos de Kochalka parecem ter se entediado com a natureza à sua volta e a reinterpretam como versões da vida tecnológica do nosso dia a dia. O resultado são continhos leves e prazerosos que ironicamente nos fazer rir de nós mesmos, como se os fungos fossem crianças encenando o mundo dos adultos. Fungos é um quadrinho despretensioso como aquele mofo de quintal, mas a simplicidade narrativa burilada por anos de produção de Kochalka faz de cada continho um jogo de conceitos divertido de se ler.
Importante citar que boa parte do prazer dessa leitura vem da versão bem esmerada da tradutora Dandara Palankof que deu vida aos diálogos adaptando as falas com um humor característico da contemporaneidade digital, mas sem esbarrar em chavões que poderiam tornar o texto datado e piegas. (LN)
Mar – Diego Sanchez (Mino, 2016, 44 pg.): Diego Sanchez Más Saint Martin é o mais prolífico autor da Editora Mino. Vira e mexe, o cara (agora também um tatuador originalíssimo) tá com trabalho novo na praça. Mar é seu gibi mais recente e, por assim dizer, o mais ligeiro.
A primeira coisa a impressionar é o design da publicação, que imediatamente remete ao experimentalíssimo gráfico da Nobrow Press – ou a fanzines mais artesanais e invocados, vibe Feira Plana. A história em si tem leitura rápida e traz todos os ingredientes característicos do autor: narrativa aberta e polissêmica, atmosfera onírica, pegada indie-intimista, layouts de página inusitados (com pausas, silêncios e espaços vazios). O desenho, em particular, se apresenta mais sujo que o usual, oxidado, como que vítima da maresia que compõe o cenário da HQ.
Morto e Martin estão sozinhos em um navio, à deriva – sensação esta que se impõe sobre a obra. Em dado momento, o alter-ego do quadrinista afirma: “Minhas histórias são caracóis. Encolhidos e patéticos.”
Para quem já conhece e admira o trabalho de Sanchez, pode vir sem medo. Mas como primeiro contato, Hermínia e Perpetuum Mobile oferecem entradas mais consistentes. (MJR)