HQ em um quadro: massacre de Chumblies nas trincheiras de Castrovalva, por Ian Edington e D'Israeli
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O horror da guerra em pelúcia (Ian Edington e D'Israeli, 2004): enquanto Hollywood continua gastando milhões em merchandising de fantasia e adaptando livros ruins do gênero em infindáveis partes iguais, uma história que poderia se tornar um verdadeiro renovador do gênero continua relegada a uma injusta marginalidade. E foi publicada no Brasil. Eu adquiri O reino dos malditos no ano de sua publicação pela Pixel em 2006 (original da Dark Horse), mas até um dia desses ainda podia ser encontrada em um saldão motivado pelo fim das atividades quadrinísticas de editora por muito módicos R$ 3,00 num Wall-Mart da vida. E essa HQ tinha tudo para virar um grande filme: trata-se de uma história intensa, perturbadora, e de tiro curto: pouco mais de 100 páginas que alternam entre um colorido mágico com gosto de infância e um ambiente tenebroso de devastação e genocídio. A trama é simples: em seus cada vez mais constantes e cada vez mais violentos desmaios, o prestigiado autor de fantasia Christopher Grahane adormece e retorna, em sonho, a Castrovalva, um mundo que ele criaria quando criança, povoado de fofos seres imaginários. Porém, algo muito brutal ocorreu a Castrovalva enquanto seu autor cresceu e se tornou adulto: a terra ampliou-se em seu inconsciente e foi dominada por um ditador brutal e desumano, promovendo pandemônio e horror ao antes inocente mundo infantil.
Grahane precisa então lidar com sua própria trajetória inconsciente quando esteve fora de Castrovalva enquanto, no mundo real, sua saúde perece cada vez mais. Este quadro, na verdade o segundo de uma sequencia de três, faz parte de um dos momentos mais intensos da história, quando Grahane vai parar no meio um massacre de Chumblies, antes ursinhos fofos e carinhosos (!), obrigados há 10 anos e entrarem no front desigual contra o ditador. O ilustrador D'Israeli, parceiro frequente do também britânico (os ingleses continuam sendo os mestres do gênero) Edington, ilustra a sequencia como se em "câmera lenta", num zoom aquebrantado, nestes quadros longitudinais que favorecem planos de conjunto. Mais curiosos ainda são as onomatopeias frankmillerianas, "budda budda", bem a calhar para a violência gráfica da HQ, ainda que bem melhor do que qualquer coisa que Miller tenha realizado em pelo menos 15 anos. Três conto, pessoal. Corre lá. Mais barato que meia entrada de filme de vampiro vagabundo. (CIM)