Para desenvolver o visual e as feições da heroína baseados nas instruções de Moulton, foi contratado o desenhista Harry G. Peter. Esse artista foi o responsável por inserir as cores e símbolos americanos no uniforme da personagem, porém, também não levou crédito, nem quando Holloway assumiu publicamente a participação nas histórias.Posteriormente, essas informações foram amplamente divulgadas e, em muitos materiais atuais, como a coletânea organizada por Roy Thomas, constam os nomes dos desenhistas e roteiristas de cada história.
As aventuras do período inicial apresentam a origem da Mulher Maravilha e sua saída da Ilha Paraíso para a América. Para entender melhor essa fase, temos que considerar o contexto político, social e intelectual americano, ou seja, a conjuntura da década de 1940 e seu reflexo direto na comunicação da época.
Politicamente, o mundo caminhava rumo à Segunda Guerra e o cenário americano incentivava o patriotismo e a valorização das forças armadas. Não é por acaso que a Mulher Maravilha usa uniforme nas cores da bandeira americana. A primeira versão foi a mais descarada de todas e continha, além das estrelas brancas sobre fundo azul, a águia careca dourada estampada no peito. Dito isso, não vai ser nenhuma surpresa se eu te contar que a Maravilha se apaixona à primeira vista por um piloto do serviço de inteligência americana, Capitão Steve Trevor, o primeiro homem a aparecer na Ilha Paraíso, exclusivamente habitada por amazonas. Trevor serve como elo entre o mundo do patriarcado (o equivalente à sociedade como a conhecemos) e a princesa Diana. É para ajudá-lo a concluir sua missão de manter a liberdade e a democracia e para auxiliar as mulheres ao redor do mundo que Diana deixa a ilha para viver na América.
Sob o aspecto social, a guerra tinha a capacidade de realocar a força de trabalho masculina para os campos de batalha, o que favorecia o direcionamento das mulheres: das tarefas essencialmente domésticas, para o mercado de trabalho. Apresentar uma heroína capaz de resolver difíceis problemas sozinha não era apenas lazer, era propaganda. Além disso, os quadrinhos de Sheena, a rainha da selva, estavam rendendo bons negócios naquele período. E embora Charles Moulton assinasse sozinho as histórias da Mulher Maravilha, a verdade é que suas duas companheiras (sim, duas!) participavam ativamente da construção da personagem.
Há boatos de que os braceletes de Diana foram inspirados nas pulseiras de Olive Byrne, a companheira não oficial de Moulton, e de que o trio era adepto de prática sadomasoquistas. E por que isso é importante? Porque está tudo embutido nas primeiras histórias. Para mais informações sobre o assunto, veja esse texto aqui ou dê uma olhada no livro The Secret History of Wonder Woman, de Jill Lepore. Mas fique sabendo que a Mulher Maravilha não tinha a pretensão de ficar sozinha e, assim que saiu da Ilha Paraíso, tratou de fazer novas amizades femininas, aliando-se a Etta Candy e às garotas da Irmandade Beeta Lambda. Durante anos essas personagens, geralmente sem nomes, apareciam em praticamente todas as histórias, auxiliando a Mulher Maravilha a resolver diversas situações.