Há exatos 60 anos, em 21 de abril de 1960, Brasília era inaugurada como a nova capital do Brasil. Além do impacto no país, por razões óbvias, o acontecimento foi notícia na imprensa internacional, que relatou, com assombro e otimismo, a novíssima cidade brasileira. Filmagens, fotografias e outros registros da época ainda impressionam ao mostrar o que parece uma maquete de prédios de arquitetura modernista no meio do deserto – um deserto, aliás, de terra vermelha, que as fotos em preto e branco não conseguiam mostrar.
Muitas outras fotos, tanto da construção de Brasília quanto de seu cotidiano nos primeiros anos, revelam – ou ao menos insinuam – o vazio e a amplitude monumental da cidade – ainda em obras, muito tempo depois da inauguração. Se vistas hoje essas imagens impressionam, imagine o efeito há seis décadas. Especialmente naqueles tempos, Brasília causava estranhamento, fascínio e uma inegável associação com localidades antes apenas vistas ou imaginadas em obras de ficção. E, especificamente, de ficção científica. Esse imaginário sobre a cidade, muitas vezes fantasioso e focado principalmente nas edificações criadas por Oscar Niemeyer, não demorou para reverberar na cultura pop. E não seria diferente nas histórias em quadrinhos.
Ao longo de anos, fui juntando alguns quadrinhos com menções a Brasília, em especial aqueles que criaram algo a partir do imaginário futurista da cidade, mais do que retratá-la como mero cartão postal ou como a cidade onde moram e (aspas opcionais) trabalha parte dos políticos brasileiros. O que vem a seguir não se pretende como uma lista definitiva ou completa das aparições da capital do Brasil em histórias em quadrinhos. Optei por um recorte que passeia pelo inusitado e pitoresco, com algo de histórico e, acima de tudo, para encher os olhos, coisa bonita de ser ver. Como eu acho que Brasília é – e, gostaria de acreditar, os autores aqui relacionados também acharam quando produziram esses quadrinhos.
Este post é também uma homenagemàs seis décadas da nova capital. Um aniversário sem festa durante a quarentena, mas que não poderia passar em branco na Raio Laser.
Se tivesse que escolher salvar de um incêndio uma revista
em quadrinhos ou um disco, Evandro Vieira não teria dúvida: “Um quadrinho, é
claro! Música é mais fácil conseguir de novo. Tenho um exemplar de Minha vida, do Robert Crumb, autografada
pelo autor. Sei bem onde está guardado para pegar e fugir com ele!”. Rock e
quadrinhos têm sido o pão com manteiga deste brasiliense desde a infância.
Hoje, aos 42 anos, ele reúne uma considerável coleção de gibis, CDs e artigos
relacionados, como bonecos e estatuetas de músicos, heróis e (principalmente) vilões.
O mais recente item do acervo é de autoria do próprio Evandro e dialoga
diretamente com essas duas paixões. O título já escancara: Rock vs.Comics.
Há 12 anos à frente da banda de hardcore Quebraqueixo,
Evandro já foi vocalista dos grupos Macakongs 2099 e Royal Street Flesh. Alguns
de seus amigos de adolescência se tornariam roqueiros famosos nas bandas
Raimundos e Little Quail, duas das mais populares de Brasília durante os anos
1990. Evandro já colocou a voz em seis CDs e Rock vs.Comics é a quarta publicação com seu nome – ou o pseudônimo Evandro
Esfolando – na capa.
A estreia foi o livro Esfolando
ouvidos (2005), no qual conta memórias, causos e bastidores do rock em
Brasília, especialmente das cenas punk e hardcore, desde meados da década de
1980 até o começo dos anos 2000. Depois, veio a coletânea de contos Grosseria refinada (2008). Uma das
histórias ali presentes, Trabalho do
Galinha Preta, foi transformada no longa-metragem Um assalto de fé (2011). Quebraqueixo
– A banda desenhada saiu há quase três anos e batiza tanto o segundo CD da
banda de Evandro quanto a revista em quadrinhos que o acompanha – nas páginas,as
letras do quarteto foram transformadas em HQs pelas mãos dos melhores quadrinistas
de Brasília.
Rock vs.Comics
não trata de uma disputa de um contra o outro, pelo contrário. Na publicação,
Evandro apresenta resenhas ilustradas de shows de rock e festivais de história
em quadrinhos dos quais participou entre 2010 e 2012. O estalo para a criação
de Rock vs.Comics, no entanto, surgiu
de um embate. Na noite de 30 de março de 2011, ele teve de escolher entre
assistir a um show do Iron Maiden ou a uma palestra do cartunista argentino
Liniers. Como já tinha visto a Donzela de Ferro ao vivo (na primeira vez que a
banda inglesa passou por Brasília), optou pelos quadrinhos.
Evandro conta que outra inspiração para Rock vs. Comics veio da leitura de O pequeno livro do rock, de Hervé Bourhis, no qual o francês apresenta com ilustrações os principais
personagens, discos e episódios do gênero musical. “Achei a ideia incrível e
pensei em fazer algo parecido com as histórias que eu conto no Esfolando ouvidos. Comecei a fazer uns
ensaios, até para alimentar o meu blog (esfolando.wordpress.com),
e vi que a coisa funcionava”.
Ao longo das 34 páginas da revista, o autor apresenta 25
resenhas ilustradas (em preto, branco e cinza) que vão desde shows de alguns de
seus ídolos, como JelloBiafra (ex-vocalista dos DeadKennedys) e a banda
SuicidalTendencies até de artistas que passam longe de seu gosto musical, como
Bob Dylan e Ringo Starr. “Posso nem gostar muito da banda, o importante é ver
um show maneiro”, pondera.
Disney, Mad, Moebius
A formação de Evandro enquanto leitor de quadrinhos
começou na infância com os personagens de Mauricio de Sousa e Walt Disney.
Posteriormente, a satírica revista Mad
exerceu grande influência sobre ele. “O humor é uma ótima porta de entrada para
o universo dos quadrinhos. E a partir dele você pode escolher qual caminho
trilhar. Eu nunca gostei muito de super-heróis, sempre curti mais quadrinhos
europeus, tipo as coisas do Moebius, e autores mais underground”, conta.
Autodidata, Evandro tem um desenho simples e minimalista
(não confundir com tosco e sem estilo) e suas histórias são rápidas e direto ao
ponto como uma música de hardcore. “Tento caracterizar os personagens com o
mínimo de traços possíveis”, comenta. Até por isso, os detalhes fazem toda a
diferença em suas resenhas ilustradas. “Eu sempre me desenho usando camiseta de
alguma banda. A escolha da banda, geralmente, tem alguma coisa a ver com a
história”. Cada resenha tem uma diagramação diferente e é possível perceber com
o passar das páginas uma busca pela experimentação de novos formatos de contar
uma história – prática que Evandro pretende expandir na próxima temporada de Rock vs. Comics. “Como no Brasil ninguém
nunca fez um quadrinho com essa proposta, eu quero sentir a resposta do público
– posso ser considerado um idiota ou um pioneiro. Mas fazer esses quadrinhos é
uma paixão e, independente de qualquer coisa, pretendo continuar produzindo,
nem que seja só para colocar no meu blog”, sentencia.
Publicado com o auxílio do FAC (Fundo de Apoio à
Cultura), Rock vs. Comics será
lançado no Domingo, 24/03, no Espaço Laje (708 Sul Bloco A, casa 47 - Brasília). A entrada é gratuita e a revista estará
à venda no local por R$ 15.
Para um cara que vem de Campinas, interior de São Paulo, morar no Rio de Janeiro tem suas vantagens. Apesar do trânsito e da considerável quantidade de mamíferos presentes nesta cidade, os eventos culturais não são tão escassos como os próprios cariocas reclamam.
Além de ir em todos os grandes eventos do Centro Cultural no Banco do Brasil e da Caixa Econômica, ainda fui em outros eventos voltados aos quadrinhos, como ComiKong com presença de Oliver Copiel, artista responsável por inovar o visual do Thor; a Bienal de Livro, em uma mesa redonda com Rafael Coutinho, André Drahmer, Lourenço Mutarelli e Rafael Sica; além da segunda edição da Comic Con Rio, com exposição de originais de Will Eisner, presença de diversos cartunistas, inclusive do roteirista Chris Claremont. Recentemente acabou uma exposição em que houve mesas redondas e oficinas com Cartunistas de Brasil e Argentina.
Esta Exposição foi Macanudismo, com mais de 650 tiras, Cartuns e quadrinhos de Liniers. Argentino, nascido em Buenos Aires, atingiu fama e glória com suas tiras no jornal Lá Nácion, assim como em ilustrações para revistas como a Rolling Stone. Lançou até agora 8 álbuns dos Macanudos, sendo 5 traduzidos aqui no Brasil, lançados pela Zarabatana Books. A editora, com sede em Campinas, também lançou outros álbuns de quadrinhos argentinos, como a Fierro, colêtanea da revista argentina que apresenta diversos cartunistas do país.
As tiras online para o Jornal Lá Nácion podem ser lidas aqui
Liniers estava presente na abertura, pintando um lindo mural que pode ser visto até hoje na caixa cultural, enquanto o músico Cheba Massolo apresentou as encantadoras músicas de seu álbum Coyazz - que teve a capa ilustrada por Liniers - acompanhado do músico Maximiliano Padin.
O artista assina a trilha sonora original do documentário Liniers, el trazo simple de las cosas, que também está na programação. Visite o myspace do músico aqui.
Toda interação contribuiu com um sentimento de conforto que encontramos também nas tiras em exposição do autor. Além das centenas de tiras, também estavam historias em quadrinhos, ilustrações das capas de discos, pinturas e os cadernos de viagens que ele carrega para suas excursões ao exterior. Havia também todos os álbuns do autor para consulta e leitura em uma mesa nos fundos da exposição. No dia seguinte, ocorreu a abertura para o público em geral e também lançamento de Macanudismo 5, na qual Liniers deu autógrafos.
Visitei a exposição em vários dias, pois é difícil conferir tanto conteúdo apenas uma vez. Sou fã dos personagens criados pelo argentino: o monstro imaginário Olga, os Pinguins e os Duendes, O homem Misterioso, e o Gato Fellini. Aliás, as tiras da menina Henriqueta com o gato e o Urso Madrigiaga são, na minha opinião, o ponto alto de Macanudismo. Gosto muito da sensibilidade e das referencias que encontramos, e eu creio que é dentro das expressões, do sensível, que sentimos o quão adulta pode ser uma história na qual boa parte dos leitores são crianças.
E é nesse sentido que reina o trunfo de Liniers: em trazer uma pegada “fofinha”, mas ao mesmo tempo adulta. Fica um patamar diferente em relação aos concorrentes infanto-juvenis. Não quero generalizar, mas é difícil achar uma produção atual que consiga satisfazer diversas faixas etárias como a dele. Nas tiras, principalmente aqui no Brasil, nos últimos anos, reina um teor muito adulto. Tiras clássicas da Turma da Mônica, Charlie Brown ou Calvin e Haroldo aos poucos dão lugar a outras tiras com temas mais sérios.
Na programação do Rio, vale a pena comentar a iniciativa de se fazer uma mesa redonda com Adão Iturusgarai e Laerte. Mesmo com o Laerte não aparecendo devido a um problema de saúde, só o evento com o Adão valeu a pena, pois contaram com outros quadrinistas, entre eles André Valente, de Bátima, e um bate-papo com Allan Sieber, criador de Preto no Branco, Negão Bola Oito e Vida de Estagiário, além de ser sócio proprietário da Tosco Graphics Studio, empresa de animações para a família Brasileira; André Drahmer, o criador das tiras Malvados e Quadrinhos dos anos 10, e também Arnaldo Blanco, roteirista, jornalista, criador dos polêmicos e hilários Capitão Presença e Mundinho Animal. O encontro rendeu ótimas risadas e piadas com assuntos sobre como molestar uma cabra ou como fazer sexo com um mosquito, além das interessantes viagens do Adão pelo mundo. Por falar nisso, o bate papo fez parte do lançamento de seu novo livro Minha vida ridícula, que contém tiras autobiográficas feitas por ele, sua mulher Laura, além de participações de amigos cartunistas.
Também houve os workshops e oficinas, que eu não pude participar devido ao meu trabalho, mas, para quem teve a oportunidade de presenciar (gostaria de receber suas impressões pelos comentários), foram estas:
Minizimbres, com Fábio Zimbres, no qual ele ensina a fazer um Zine.
Uma Oficina com introdução Ao mundo da Tira, com Adão.
Quadrinhos de Observação, com Rafael Coutinho.
e outros temas que podem ser vistos aqui.
Os quadrinhos de língua espanhola estão passando por um ótimo período aqui no Brasil, depois do paradigma quebrado pela Zarabatana. Hoje em dia é comum ver álbuns publicados de língua espanhola no país. Dia 20/09 presenciei uma mesa redonda entre André Drahmer e Max, cartunista old school de quadrinhos da Espanha, que aqui no Brasil teve publicado apenas o álbum O prolongado sonho do Sr. T.
Sempre tive uma grande curiosidade para conhecer melhor os quadrinhos argentinos. Um dos meus planos para quando fosse visitar o país era justamente comprar algumas obras interessantes produzidas pelos autores de lá. Eu sabia que tinha muita coisa boa, toda uma tradição e tal. Mas, sem tantas referências, eu teria que comprar meio no escuro, por instinto.
Por sorte, alguns meses antes de ir passar umas férias em Buenos Aires (em novembro de 2010) foi publicado o livro Bienvenido – Um passeio pelos quadrinhos argentinos, do jornalista Paulo Ramos, do Blog dos Quadrinhos.
Um livro rico em informação e com um apanhado de imagens que apresenta um panorama do melhor do quadrinho argentino. Uma produção vasta, riquíssima (com várias obras primas) e pouco conhecida pelos leitores brasileiros.
Recomendo o livro não só pelas dicas, mas pela pesquisa bem feita e embasada e pelo ótimo acabamento editorial da sempre competente Zarabatana Books. Além da história das HQs na Argentina, Bienvenido apresenta entrevista com Elsa Oesterheld, viúva de Héctor Germán Oesterheld, roteirista, um dos mestres do quadrinhos argentinos e desaparecido político da ditadura do país.
Entrevistei o Paulo por e-mail no ano passado. Abaixo seguem as respostas.
* comprei várias das indicaçãos de Bienvenido (e algumas outras). Em breve comento sobre elas.
Quais os principais desafios na feitura do livro?
Creio que o principal desafio foi ter acesso às obras argentinas. O caminho que encontrei foi mesmo investigar tais produções in loco. Viajei seis vezes ao país entre 2007 e o fim de 2009 e comprei por lá tudo o que pude, de livros novos a títulos já antigos, fora de catálogo, alguns bastante raros.
Arrisca algum palpite de porquê tão poucos quadrinhos argentinos foram publicados no Brasil?
Como você bem diz, trata-se de um palpite. Creio que a resposta passa pela tendência de importarmos quase cegamente muito da cultura de massa dos Estados Unidos. No caso dos quadrinhos, priorizamos tais produções ao longo de todo o século 20, das tiras às aventuras dos super-heróis. Quase não abrimos espaço para histórias vindas de outros países desenvolvidos. O que diria, então, de um país sul-americano, vizinho.
A bibliografia do livro é enorme! Como você chegou a todas essas fontes de pesquisa? O que diria que o seu livro tem de diferente dos livros argentinos sobre as HQs de lá?
A bibliografia é enorme, sim. Só tive ideia do quanto havia lido quando comecei a elencar todas as obras e pesquisas utilizadas. Como comentei na primeira resposta, cheguei à maior parte das obras comprando uma a uma ao longo das viagens à Argentina. Algumas outras, poucas, foram publicadas no Brasil, caso de Mafalda e de outras coletâneas de Quino, o criador da personagem. Creio que o que se destaca na produção argentina, em comparação com a brasileira, seja a tradição de criar enredos mais longos, publicados em capítulos, como se fossem folhetins. Isso permitia, a longo prazo, a construção do que hoje temos chamado de novela gráfica. Os temas variavam, de mistério a ficção científica, de faroeste a aventura. Muitas dessas histórias se destinavam a leitores adultos já na década de 1950, bem antes da Europa, por exemplo. Não tivemos aqui tal tradição no tocante aos quadrinhos, mesmo no terror, gênero em que fomos tão fortes - tais histórias tendiam a serem curtas.
Muitos amigos meus que visitaram a Argentina recentemente tiveram dificuldades de encontrar quadrinhos por lá — mas não sei se eles não procuraram direito. O que eu quero saber é o quanto é fácil ou difícil encontrar quadrinhos argentinos por lá (atualmente, recomendo para todos os amigos passarem nas lojas de quadrinhos de Buenos Aires que você listou no livro).
Tive a mesma dificuldade em minha primeira viagem a Buenos Aires, em 2007. Fui de início aos caminhos mais óbvios, os kioscos – nome das bancas de jornal de lá – e as livrarias. No primeiro caso, encontra-se muito pouco. Nas livrarias, a situação é um pouco melhor. O que mais há nas prateleiras são coletâneas de tiras já publicadas nos jornais – caso de Macanudo, de Liniers, para ficar em um exemplo. Mas é questão de saber procurar. O melhor lugar para encontrar os quadrinhos argentinos são as comiquerias, as lojas especializadas em quadrinhos. Há várias em Buenos Aires, muitas na região do microcentro, principal área turística da cidade. Lojas dos jornais também vendem edições das coleções de quadrinhos já publicadas. É outro caminho para se encontrar bons títulos a um preço mais em conta.
Tem alguma HQ argentina rara, que você gostaria de ter e ainda não conseguiu?
Tem, sim. Duas me ocorrem no momento. Uma delas é uma edição de Las Puertitas del Señor Lopez, um dos melhores quadrinhos produzidos no país, no meu entender. Consegui uma coletânea publicada pelo jornal Clarin, volume que me ajudou muito a entender a obra. Mas há outra edição, esgotada, que não consegui encontrar. Outra é um álbum chamado Legion, de Salvador Sanz, um jovem desenhista da nova geração de quadrinistas, muito talentoso. Nem mesmo o autor tinha um exemplar para me passar. É um trabalho esgotado no país, sem previsão imediata de ser reeditado.
É possível apontar uma(s) característica(s) inerente(s) ao quadrinhos argentino?
Acredito que seja a tradição das aventuras mais longas, construídas em capítulos, como nos folhetins, como comentado na terceira resposta.
Como você descreveria o trabalho de Oesterheld para quem nunca leu uma história do autor?
É um roteirista bem acima da média, temática e qualitativamente. Diria que é um autor de dois momentos bastante distintos. O primeiro, na década de 1950 e parte de 1960, é mais marcado por roteiros de diferentes gêneros, em que se destaca a ficção científica. É dessa época El Eternauta, sua obra mais conhecida. Um segundo momento, iniciado no fim dos anos 1960, é mais voltado a produções mais engajadas politicamente, reflexos da opção política adotada por ele. A biografia de Che Guevara, um dos poucos trabalhos dele lançados no Brasil, é desses anos.
Foi fácil chegar até a viúva de Oesterheld? Como ela encara falar sobre o desaparecimento do marido e das filhas?
Cheguei até ela com a ajuda de dois contatos, um daqui do Brasil e outro da Argentina. Foi uma das entrevistas mais fortes que fiz em meus mais de 15 anos de jornalismo. Elsa Oesterheld perdeu, no prazo de dois anos, o marido, as quatro filhas – duas delas grávidas – e os dois genros, todos vítimas da ditadura instaurada no país em 1977. A tragédia pessoal já está muito amadurecida por ela. Perguntei como ela encarou isso. Fecho o livro com a resposta dela.
Qual autor argentino contemporâneo você diria que merece ser publicado no Brasil?
Há vários. Não seria uma lista de apenas poucos nomes. Se fosse relacionar todos, seguramente iria me esquecer de alguém.
Você tem alguma HQ argentina favorita? Ou personagem? Por quê?
Gosto muito das tiras, assim como aprecio também as nossas, que não perdem em qualidade para as de lá. Fora do universo humorístico, há três obras que considero muito interessantes, tanto na qualidade gráfica como no roteiro: El Eternauta, de Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano Lopez; Cosecha Verde, de Carlos Trillo e Domingo Mandrafina; Las Puertitas del Señor Lopez, de Carlos Trillo e Horacio Altuna. Como disse, são trabalhos que se distinguem pela qualidade. Infelizmente, como a maior parte dos quadrinhos de lá, permanecem inéditas aqui no Brasil.
O livro tem sido lançado em várias cidades. Como tem sido a resposta a ele?
Tenho tido um bom retorno nos lançamentos. Os leitores têm se mostrado muito interessados, talvez pelo ineditismo do assunto. Das pessoas que já o leram, também tenho recebido comentários bastante positivos. Hoje mesmo, recebi de um editor um retorno, por e-mail, muito elogioso.
Gostaria que você fizesse uma lista de cinco quadrinhos argentinos fundamentais, daqueles que os leitores brasileiros deveriam tentar comprar quando passarem pela Argentina.
Vamos lá:
- Mafalda, de Quino
- Macanudo, de Liniers
- El Eternauta, de Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano Lopez (a primeira parte, publicada na década de 1950)
- Cosecha Verde, de Carlos Trillo e Domingo Mandrafina
- Las Puertitas del Señor Lopez, de Carlos Trillo e Horacio Altuna
Uma palhinha de Paulo Ramos em vídeo, falando ao Jornal de Debates sobre o futuro das HQs brasileiras:
Macanudo, em espanhol, quer dizer supimpa, bacana. Ricardo Liniers, o cartunista argentino dono da tirinha de mesmo nome, é um cara pra lá de macanudo. Tive a oportunidade de perceber isso ao vivo, no mês passado, quando conheci o roteirista e desenhista em Brasília. Ele esteve na cidade para falar sobre seu trabalho em duas noites de palestra (29 e 30 de março) no Instituto Cervantes (que promoveu o evento).
Liniers, 37 anos, conquistou os espectadores com carisma e muito bom humor. No final do primeiro dia de palestra, me aproximei para pedir uns autógrafos. O ilustrador Fernando Lopes, meu colega de Correio Braziliense, perguntou se Liniers não teria interesse de fazer um passeio por Brasília na manhã seguinte, para conhecer alguns monumentos da cidade e visitar algumas exposições. Liniers aceitou no ato. Como eu não trabalharia na quarta de manhã, combinei de fazer o rolê com eles.
Passamos pelo Museu da República, Catedral, Esplanada dos Ministérios e Memorial JK. O argentino se impressionou com a arquitetura retro-futurista da capital brasileira. “O visual da cidade me lembra Sleeper”, ele comentou, em alusão ao filme de Woody Allen lançado em 1973 (O dorminhoco). Liniers é gente boníssima, daqueles caras com quem a conversa pode durar horas. Falamos especialmente sobre quadrinhos: autores brasileiros e argentinos, o mercado das HQs nos dois países, etc.
Depois do almoço, levei Liniers para a Cultura do Casa Park, onde cerca de 30 fãs já esperavam para conseguir desenhos, autógrafos e fazer fotos. Ele é o tipo de artista atencioso. Nas fotos, era só sorrisos. Mais do que simplesmente assinar os livros, fazia um desenho em cada um, um diferente do outro, sempre coloridos, caprichados.
Quem também estava na livraria na ocasião era o editor da Zarabatana, Cláudio Martini. Ele tem feito um trabalho elogiável, lançando títulos de qualidade autoral e com ótimo acabamento editorial. Além de Macanudo, a Zarabatana lançou recentemente outros dois materiais argentinos, a revista semestral Fierro Brasil (coletânea de histórias curtas de autores brasileiros e argentinos) e a Noturno, de Salvador Sanz, que está saindo pela Coleção Fierro.
Dois amigos que também estiveram nas palestra de Liniers comentaram a passagem dele por Brasília em seus blogs: o desenhista Caio Gomez e o desenhista/ roteirista/ roqueiro/ camelô Evandro “Esfolando” Viera. Depois da segunda noite de palestra (que eu não pude comparecer), os dois, mais alguns amigos, continuaram ciceroneando o cartunista argentino e o levaram para tomar umas cervas. Caio escreveu um breve relato do encontro. O Evandro foi mais longe, fez umas fotos e ainda uma HQ sobre o assunto. Liniers, cara macanudo que é, quando voltou para casa, agradeceu a recepção brasiliense com uma tirinha muito simpática sobre Brasília.
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