MUNDO PARALELO Aventura e Ficção nº 1 – Vários (Independente, 2016, 152 p.): Pode parecer estranho, mas histórias em quadrinhos adultas (ou quase) já foram um meio de comunicação extremamente popular no Brasil. Majoritariamente encontradas em bancas de revista, custavam o equivalente a uma ou duas carteiras de cigarro, e suas tiragens mais baixas ultrapassavam com tranquilidade dez mil exemplares. Neste panorama, as revistas mix eram bastante comuns e tinham por característica trazer diversos autores em uma mesma edição, quase sempre em narrativas curtas e fechadas.
Animal, Circo e Heavy Metal, entre tantas outras, tiveram seu momento e deixaram saudade – saudade essa que o editor e roteirista Walter Klattu deseja matar com Mundo Paralelo: Aventura e Ficção (subtítulo saborosamente surrupiado da saudosa revista publicada pela Editora Abril).
A intenção é das melhores. Nesta primeira edição – houve um nº zero anterior, importante lembrar –, Klattu nos entrega um calhamaço com 13 histórias, em excelente impressão, por módicos R$ 8,00. A capa, belíssimo trabalho da dupla Eduardo Cardenas e Eduardo Schaal, tem envergadura para estampar qualquer Metal Hurlant da vida, e ainda traz uma crocante aplicação em prata no título. Se o miolo da revista apresenta um timaço de desenhistas, a maioria dos roteiros se debate contra o complexo labor das narrativas curtas.
Klattu e Cardenas abrem a picada com Obuz, uma HQ de 16 páginas – que necessitaria outras cem para desenvolver adequadamente a miríade de conceitos e personagens apresentados. Cardenas retorna com sua arte fantástica em O Sol Negro – trama vampiresca que também clama por mais espaço –, e Próto 9, onde arte-finaliza Sebastião Seabra, valorizando a qualidade do desenho do veterano. E por falar em veteranos, é sempre um prazer reencontrar o craque Mozart Couto, mestre do quadrinho nacional e nosso maior expoente no gênero Espada & Magia. Em Urian, Mozart mostra o que todos já sabemos: que ele faria um Conan à altura de John Buscema. Guerreiros também estão presentes nas duas HQs ilustradas com maestria por João Azeitona: A Caça e Zulu – o roteiro mais bem resolvido de toda a edição, autoria do macaco velho Gian Danton.