SUPERMAN - ANO UM : FRANK MILLER E JOHN ROMITA JR. ATINGEM O ÁPICE. SÓ QUE DE CABEÇA PRA BAIXO
/por Márcio Jr.
Frank Miller e John Romita Jr. se superaram. Por mais baixas que fossem as expectativas em relação a Superman: Ano Um – enésima e desnecessária recriação do mais icônico e soporífero super-herói –, a multiplatinada dupla foi capaz de entregar uma “obra” ainda pior. Dá para sentir o cheiro de longe.
É como se Miller e Romitinha tivessem chegado ao fundo do poço. E encontrado uma pá. Ou seja, estamos falando de lixo laborioso. Tempo e trabalho consumidos para forjar, meticulosamente, o ponto mais baixo da carreira de ambos. Um feito e tanto.
Frank Miller é o maior nome dos quadrinhos de super-herói desde a dupla Jack Kirby e Stan Lee. Não é segredo para ninguém que há anos (décadas?) segue sem emplacar algo digno de aplausos. Não imaginei que agora fosse diferente. Mas também não imaginei que a ladeira estivesse cheia de cacos de vidro, rumo a um rio de merthiolate. Do antigo.
John Romita Jr. é dos meus desenhistas favoritos nos mainstream comic books. Herdeiro de uma velha tradição em que desenho parece desenho, possui narrativa clara e elegante – ao contrário da sobreposição de quadros entupidos de detalhes, cujo único propósito é deslumbrar nerd sem noção do que seja uma boa HQ. Mas também não é segredo para ninguém que Romita Jr. já não é o mesmo de outrora.
Faço parte do grupo que é capaz de comprar um gibi só por causa do desenhista. Quadrinhos são um meio imagético. Logo, mesmo quando a história não é lá essas coisas, uma boa arte é capaz de me proporcionar certa satisfação. Romita Jr. geralmente consegue me fazer levá-lo para casa. Para mim, suas HQs são como sexo e drogas: mesmo quando ruins, são boas. Mal sabia eu que Superman: Ano Um seria tão broxante. Verdadeira bad trip.
Nunca o filho do lendário John Romita se mostrou tão destituído de criatividade e tesão. A impressão é que desenhou tudo com o pé, de olho no holerite. O formato avantajado dos três volumes da série acrescenta um indesejável zoom nessa negligência. Deu até saudade dos formatinhos.
A arte-final do detestável Danny Miki não ajuda em nada. Com suas insuportáveis e finíssimas hachuras, ele já havia estragado outros trabalhos de Romita Jr. – como em Eternos. Mas nada se compara a este Ano Um. Para completar, a cereja do bolo (fecal) são as cores de Alex Sinclair: aquele photoshop nauseante que nem a Image usa mais. De toda forma, apesar de sua evidente mediocridade, seria injusto responsabilizar Miki e Sinclair pelo tédio modorrento que escorre das páginas do gibi. A culpa é sua mesmo, Romitinha.
Se por um lado sou capaz de comprar um gibi só pelos desenhos, também sou capaz de enxergar uma grande HQ escondida sob arte ruim. Desde que o roteiro seja excelente, óbvio. Superman: Ano Um passa longe disso.
Tempos atrás, aqui na Raio Laser, comecei uma série de ensaios sobre o Cavaleiro das Trevas III. Não fui homem o suficiente para terminar a empreitada. Mas a tese era basicamente a seguinte: enquanto DK I era uma obra inovadora – para os gibis de super-herói, claro –, e DK II uma espécie de tratado cínico de Miller contra a indústria e seus leitores, DK III não passava de um gibi qualquer nota. Uma tolice caça-níqueis. Em meio a tantas outras.
A questão é que, mesmo sendo uma bobagem para se ler no banheiro, o Cavaleiro das Trevas III era um gibi divertido do Batman – desde que você seja capaz de se divertir lendo um gibi do Batman. Muito superior, por exemplo, àquela presepada do Grandes Astros: Batman escrita pelo Scott Snyder – esse sim, um dos roteiristas mais patéticos da atualidade – e desenhada com dignidade pelo Romita Jr. (Céus, o que eu estou dizendo?)
Com tudo isso, por que raios eu fui ler este Superman? A verdade é que eu não fui atrás do Superman, mas sim da dupla Miller/Romita Jr. Muito cedo entendi que não são os personagens os responsáveis por uma boa HQ, mas sim seus autores. E quem me ensinou isso foi justamente Mr. Miller. De modo que eu leria até mesmo um gibi do Smilinguido feito por ele. Principalmente se ele próprio desenhasse, com seu estilo atual, absolutamente bagaceiro – e que eu gosto, diga-se de passagem.
Nos textos sobre Cavaleiro das Trevas III, eu afirmo que Frank Miller, como autor, está morto. O velhote terminou por se converter numa commodity. A questão é que commodities podem se desvalorizar no mercado. Parece que é isso que está acontecendo com o saudoso pai de Ronin. Prova disso é ninguém ter aberto o bico no Brasil para falar de Xerxes, a continuação de 300 de Esparta, um de seus últimos trabalhos de fôlego. Se for tão ruim quanto este Superman: Ano Um, só mesmo um completo imbecil para comprar. Tipo eu.