Paciência: uma viagem cósmica rumo ao amor eterno ou à obsessão?

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Em 2017, a Nemo nos agraciou com a edição em português de Paciência, a primeira graphic novel lançada por Daniel Clowes após um hiato de cinco anos. A história é um romance sci-fi que narra a obsessão de Jack Barlow em encontrar o responsável pelo assassinato de sua esposa, Paciência.

Novamente, Clowes trabalha com personagens marginalizados na sociedade, mantendo o estilo de escrever quadrinhos underground. Nesse gibi, as figuras são pessoas simples que, de alguma forma, se deram mal na vida, sofrem de complexos de inferioridade e com algumas frustrações que acabam marcando definitivamente suas personalidades, como falta de grana, sentimentos não correspondidos ou família desestruturada. O diferencial dessa obra é o universo ficcional no qual os personagens estão inseridos com direito a viagens no tempo, cenários futuristas e as alucinações de Barlow. Lembrei de Medo e Delírio em Las Vegas, de Hunter Thompson.

A obra possui várias camadas de informação e a narrativa é um labirinto cujo início e final encaixam-se muito bem. Na medida em que Barlow viaja no espaço-tempo, a história avança, os cenários mudam e nos aprofundamos na personalidade de Paciência, conhecendo sua origem e algumas de suas experiências pessoais. A história é dividida em saltos temporais: começa em 2012, salta entre 2029, 2006, 1985 e, outra vez, 2012; completando um circuito narrativo claro, sem deixar o leitor se perder pelo caminho.

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Através dos diálogos, é possível inferir como funciona o mecanismo de transporte espaço-temporal, mas sua representação é simplória. Quem gosta das explicações tecnológicas de como os mecanismos ficcionais funcionam – feito eu! – não será contemplado. A tecnologia aparece para compor a narrativa e ambientar o leitor, mas é um argumento secundário. O destaque narrativo é para as relações inter e intrapessoais.

Exímio artista gráfico – conforme já havia me convencido em Wilson (Cia das Letras, 2012) e Eightball (Fantagraphics, 2015) – Clowes está ainda mais explosivo nesse quadrinho, com cores vibrantes, ângulos instigantes e estouros de violência. Em alguns momentos, ponderei se estava diante de um quadrinho frenético de terror, cheio de drama e suspense.

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A obra pode ser recomenda para leitores ousados, dispostos a vivenciar uma tragédia psicodélica baseada em saltos temporais e interessados em flutuar no limbo entre o amor e a obsessão que cerca a relação de Barlow e Paciência. Um quadrinho adulto, pesado e elétrico que não deixa o leitor em paz até chegar à última página.

*Pesquisadora de fotografia e histórias em quadrinhos, bacharel em direito pela UFPE, mestre em comunicação e doutoranda em artes visuais pela UnB. Colaboradora da Raio Laser.

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