LASERCAST #65 A SAGA DO LEÃO NEGRO: convidado especial ofeliano de Almeida

O nome do quadrinista carioca Eduardo Ebenezer Ofeliano de Almeida (1954), mais conhecido simplesmente como Ofeliano, deveria ser imediatamente lembrado por quem se interessa por quadrinhos brasileiros como sendo o desenhista e cocriador da melhor HQ seriada já produzida no Brasil: As aventuras do Leão Negro. Entretanto, o destino do personagem seguiu uma rota tortuosa, que dificultou tal reconhecimento. Pelo menos até agora: muito em breve (ainda no primeiro semestre de 2024) todas as histórias ilustradas para a série por Ofeliano estarão disponíveis em uma coletânea luxuosa, com capa dura e vários textos contextualizando a trajetória em quadrinhos de Othan, o Leão Negro. Vale lembrar que, quando da gravação deste Lasercast #65, a campanha de financiamento para viabilizar o álbum estava às vésperas do encerramento.

Página da aventura “Magala” publicada na coletânea Brasilian Heavy Metal (1996).

Criado pela roteirista Cynthia Carvalho e por seu então namorado, Ofeliano de Almeida, As aventuras do Leão Negro foi a série vencedora de um concurso de novas tiras promovido pelo jornal O Globo em 1987. Publicado até 1989 no suplemento O Globinho, em preto e branco de segunda-feira a sábado e, em cores, aos domingos, Leão Negro conseguiu inúmeros admiradores pelo Brasil, impactados tanto pelas narrativas aventurescas vividas em um fantasioso mundo medieval, quanto pelo comportamento do protagonista, um anti-herói ambíguo e violento que leva a vida como mercenário.

Sequência da saga Terras Polares” publicada em tiras no suplemento O Globinho em 1988.

Em 1990, a saga “O filhote” foi publicada ao longo de três edições da revista portuguesa Selecções BD e, na sequência, em um álbum individual, lançado pela editora Meribérica. Para a publicação em Portugal, Cynthia e Ofeliano adaptaram as tiras originalmente lançadas em O Globinho para o formato de páginas e a HQ foi toda colorida. E a presença de Othan no mercado europeu parou ali.

Tempos depois, em 1996, a coletânea Brasilian Heavy Metal contou com uma história de cinco páginas chamada “Magala”, e as aventuras “Na Ilha de Gardo”, “No Mundo Subterrâneo” e “Terras Polares” foram publicadas nos três únicos números da revista RPG Saga (que, ao contrário do que o nome sugere, era uma publicação sobre cultura pop e quadrinhos e não sobre RPG).

Depois de um tempo sumido, Othan deu as caras na revista RPG Saga.

Em 2003, Cynthia Carvalho publicou, por conta própria, edições independentes com as aventuras de seu personagem e, a partir de 2008, a editora HQM lança quatro álbuns com as HQs clássicas ilustradas por Ofeliano e quatro álbuns com novas aventuras, com artes (inclusive as capas) de Danusko Campos e participação eventual de André Mendes. Essas edições são em preto e branco, com sombreamento digital acrescentado aos desenhos pela própria Cynthia. E é com essa mesma arte que chega agora ao mercado a edição comemorativa, reunindo a produção de Ofeliano junto ao Leão Negro.

Capa de uma edição independente, lançada por Cynthia Carvalho, e uma das edições da editora HQM (capa de Danusko).

Mas Ofeliano de Almeida, alguns de vocês devem saber, tem uma produção quadrinística que antecede o Leão Negro e talvez seja por ela que muitos leitores se lembrem dele. O desenhista, profissional que hoje trabalha com storyboard para a TV, faz parte da geração de autores que deixou sua marca nos quadrinhos de terror feitos no Brasil, muito populares entre meados dos anos 1970 e o começo da década de 1980.

Ofeliano deixou um espectro de medo em sua produção de HQs de terror!

O papo com Ofeliano no Lasercast poderia render algumas horas, mas, tal qual a trajetória de Othan no passado, foi interrompida inesperadamente. Acreditamos que conseguimos, entretanto, fazer um bom passeio por sua carreira nos quadrinhos.

Quem acompanha este site há mais tempo, sabe que não é a primeira vez que abordamos Leão Negro por aqui e, possivelmente, não será a última. Ficamos na torcida para que, futuramente, a Cynthia atenda nosso pedido de entrevista. E torcemos também para que nossa contribuição na divulgação de Leão Negro traga mais reconhecimento para esta série que, inequivocamente, já tem seu devido lugar no panteão dos quadrinhos brasileiros.