Quadrinhos além... do papel!
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por Lima Neto
Ahhh! Terremotos!
Tsunamis! Crises monetárias mundiais!
Realmente o mundo
anda vivenciando um clima aconchegante de apocalipse. Mas, se o tempo e o
espaço pudessem ser resumidos em uma palavra, talvez “mudança” fosse a mais
apropriada. Mudança causa terror! Mudança causa apreensão! E mudança traz
esperança, para aqueles que são de sentir esperança. Um desses abençoados é um
velho conhecido do mundo do quadrinho norte-americano: o escritor Mark Waid,
famoso pela sua visão do futuro do universo DC junto com o artista Alex Ross em
Reino do Amanhã e outros trabalhos tanto para a editora da Warner quanto para a
Marvel.
Mark Waid escreveu Reino do amanhã. Sujeito cabuloso |
No final do ano
passado, Waid deixou seu cargo de editor chefe da editora Boom!, onde publicava
seus títulos Irredimable e Uncorruptible, para voltar ao estatus de escritor freelance. Mas seus objetivos eram maiores que isso, e bem mais proféticos!
Waid agora é o porta-estandarte dos quadrinhos digitais. De acordo com o
escritor, uma série de fatores, como a popularização de mídias portáteis de
leitura, a imensa queda nas vendas dos quadrinhos impressos, o alto custo da
impressão em papel, a porcentagem absurda taxada pelas distribuidoras – além de
impossibilitar a entrada de sangue novo no mercado, vão mudar o perfil da indústria
de quadrinhos até o ponto de dar um fim ao quadrinho impresso na maneira como
são produzidos hoje nos EUA. E para ele (e para mim também) está é uma boa
mudança.
Apostando em Waid, a
Disn... digo, a Marvel comics anunciou o lançamento do selo Infinty de
quadrinhos online e app's de realidade aumentada, visando o mercado dos
tablets. Em uma decisão sábia, colocou o próprio Waid como chefe da linha. A
decisão é sábia pois Waid não só faz campanha a favor do quadrinho digital
como, junto de artistas colaboradores, vem pesquisando técnicas narrativas que
exploram as potencialidades do meio digital. Você pode conferir parte desse
processo, ainda inicial, neste vídeo abaixo:
O resultado da
parceria Waid/Marvel pode ser vista na edição Avengers Vs X-men Infinity, uma
introdução à saga que você pode baixar via um código dado na compra da edição
número #1. A revista tem arte de Stuart Immonen, que recebe crédito de
co-roteirista. Esse crédito não é dado por acaso. Existe um leque enorme de
possibilidades para produção do quadrinho online e, de acordo com o próprio
Waid, a ideia não é fazer um quadrinho animado, como já houve em outros experimentos,
e sim procurar a afinação correta em que se possa explorar alternativas, mas
sem tirar do leitor o controle sobre o timing da narrativa. Nessa perspectiva,
o artista acumula uma nova função: a de contar a história com a tecnologia disponível para a mídia digital.
O maior problema, no
entanto, não está na exploração da capacidade narrativa do meio, o que na
verdade é um motivo de empolgação para os artistas envolvidos, mas sim em
outros aspectos mais, digamos, quantitativos. Atualmente existem terabytes infinitos de quadrinhos online sendo publicados na net. Existem graus
diferentes de qualidade, é verdade, mas o grande ponto em comum entre eles é o
fato de não receberem pagamento pela veiculação dos mesmos. Lógico que o grande
sonho é que seu quadrinho faça sucesso o suficiente para poder daí ser lançado
na mídia de revista. Mas para mapear todos os quadrinhos online sendo
produzidos no mundo seria preciso uma dedicação realmente sobre-humana.
Neste panorama, o
respaldo de editoras já estabelecidas no mercado poderia servir como um portal
de extrema utilidade para se conhecer novos trabalhos que tenham um nível efetivo
de qualidade. É lógico, porém, que tal ação funcionaria como um filtro que
obedeceria a critérios muito específicos e que acabem não privilegiando a criatividade
ou qualidade destas HQs.
Uma boa saída para
este impasse pode estar justamente na criação de portais cooperativos de
artistas associados e autônomos que possam, em conjunto, colaborar para a
manutenção da produção e da qualidade buscando apoio monetário via publicidade
no site. Pensar este novo lugar para o quadrinho pode ser uma boa saída frente
às limitações impostas, tanto monetárias quanto ideológicas, do quadrinho
impresso. Lógico que o trabalho de produção continua o mesmo e demanda o mesmo
tempo. Mas o que vejo é uma boa época para que o quadrinho independente, com
todo o potencial artístico envolvido neste termo e sem preconceitos de gênero
(de histórias, não o sexual), possa tomar o lugar que vai ser deixado vago
pelas grandes corporações em breve.
E, agora que acabo de
escrever o artigo, o site Comics Alliance acaba de postar uma matéria sobre um
site que ajuda a procurar quadrinhos online postando primeiro quadro de cada
título. Just the first frame é o nome do site e
uma boa maneira de passar os olhos por um conteúdo de quadrinhos online bem
extensos e que sofre updates constantes. Outra novidade, que chegou até mim via
Ciro Marcondes - uma das mentes por trás do site Raio Laser - é o Tumblr Maria Nanquim, que posta charges e
tiras nacionais e gringas sempre com uma verve mordaz e com vários artistas
novos.