PARALELAS: GRANDE DEPRESSÃO - UM CONTRATO COM DEUS X KINGS IN DISGUISE
/por Ciro I. Marcondes
Todos conhecem a história: em 24 de outubro de 1929, com uma violenta queda nas ações da bolsa de valores de Nova York, o mundo entrou em uma gigantesca recessão que atravessaria os anos 1930, abalando fortemente, nos EUA, as administrações Hoover e depois Roosevelt, gerando reação em cadeia nas economias do mundo inteiro.
As causas da Depressão são ainda hoje controversas no debate entre economistas, mas com certeza podem ser consideradas multifatoriais. No entanto, é consenso que houve uma crise de superprodução nos EUA (oferta maior que a demanda) após as economias europeias se recuperarem dos danos da Primeira Guerra, e a bonança gerada pela forte industrialização ter se convertido em intensa deflação na terra do Tio Sam.
Até hoje não se compreende bem a influência da política de laissez-faire (crescimento do crédito na economia e redução nos programas governamentais) de Calvin Coolidge (presidente dos EUA entre 1923 e 1929) e o investimento em projetos públicos, tarifas e aumento nos impostos corporativos de Herbert Hoover, nos efeitos da Grande Depressão. Porém, conhece-se bem a onda de miséria e o baixo crescimento econômico que se seguiu praticamente até a Segunda Guerra Mundial. Foi um longo e traumático tempo de recessão econômica.
Com as bolsas de valores caindo em mais de 50% e uma diminuição de 15% no PIB mundial, era inevitável que o mundo tivesse de vivenciar um altíssimo índice de desemprego. Nos Estados Unidos, hordas de hobos tomavam a cidade e o interior, em conflito com as (muito repressoras) autoridades, perambulando entre cortiços, sindicatos com tendências comunistas, acampamentos puídos e igrejas. Esses “mendigos” eram gente que perdera o teto, zanzava pelas ruas e passava a vida pegando carona clandestina em sujos vagões de carga nos trens, indo de uma ponta a outra do país. Naquela época, a crise levou quase três anos para atingir seus piores e calamitosos índices. Nesta crise de 2020, o que se indica é que a depressão que nos aguarda pode ser mais rápida e agressiva. Uma perspectiva nada animadora, que precisa ser vista de frente.
É por isso que, para essa minha estreia na coluna “Paralelas” (criada pelo Marcão), resolvi olhar para duas HQs que têm sua importância para a instituição do sempre questionado (digo: inutilmente) termo graphic novel, utilizando a Grande Depressão como tema central. Olhando por esse prisma, me parece que o assunto foi importante para se depositar a tal “seriedade” necessária para se instituir essa nova “categoria” de quadrinhos. Foi um período extenso e grave nos EUA, e que foi representado, ainda na época, na música de Woody Guthrie, na literatura de John Steinbeck e no cinema de Frank Capra e John Ford.
O próprio Will Eisner, comentando sobre Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço, afirma que forçou o termo graphic novel para chamar a atenção de grandes editoras e para que o livro fosse vendido em livrarias. Porém, o tema lhe era caro. Fazia parte de sua história. Era a vez dos quadrinhos investirem no cânone da Depressão.
Como se sabe, Eisner publicou seu primeiro romance gráfico (ainda que fosse uma compilação de quatro diferentes “contos”) em 1978, e a Grande Depressão aparece como pano de fundo para um olhar amplificado sobre pobres criaturas que transitavam nos cortiços do Bronx, em Nova York, durante os anos 1930. O aspecto humanista e pormenorizado da escrita em quadrinhos de Eisner não abandona, no entanto, os elementos econômicos da Grande Depressão.
A trajetória de Kings in Disguise é distinta, mas está ligada diretamente à de Um Contrato com Deus. O premiado dramaturgo James Vance já havia realizado uma peça teatral de sucesso sobre o período da Depressão com On the Ropes (1979), e em 1984 retornou ao tema em uma espécie de prequel do primeiro trabalho, sobre um garoto de classe média baixa que perde tudo (casa, pais, irmãos) nos anos 1930 e se torna um hobo na companhia de um doente e lunático desgarrado que acha que é o rei da Espanha.
Fã de quadrinhos e após ser influenciado pelo trabalho de Eisner e outros, Vance resolveu apostar em uma adaptação da trágica e radical prequel (Kings in Disguise) para o formato graphic novel. Na época, o gênero dava seus primeiro passos. Ele conseguiu isso com ilustrações de Dan Burr, pela Kitchen Sink, de Denis Kitchen, justamente quem havia “revivido” a memória de Spirit. A história saiu em 1988, no formato de minissérie, em seis edições.
Ainda que Kings in Disguise (talvez pela “dureza” de sua quadrinização) seja menos lembrado do que mereça hoje em dia, trata-se de uma das mais implacáveis e perturbadoras histórias em quadrinhos já feitas. Como disse Alan Moore em 2005: “Esta é simplesmente uma das mais emocionantes e atraentes histórias humanas a emergirem da mídia das histórias gráficas até agora”. Precisa dizer mais?
Para Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço, me servi tanto da bela edição de 1995 da Editora Brasiliense, que julgo ter uma tipografia mais próxima de Eisner, quanto da nova e robusta versão que saiu pela Devir em 2019 (com diferente tradução e páginas extras), que compila também A Força da Vida (1988) e Avenida Dropsie (1995), compondo uma trilogia. Vou me deter, porém, somente sobre a primeira graphic.
Para Kings in Disguise, que lamentavelmente nunca saiu no Brasil, utilizei a edição compilada pela W.W. Norton em 2006, com introdução de Moore e prefácio do próprio James Vance.
Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço – O espaço da Grande Depressão como estética
É importante frisar que Um Contrato com Deus não é uma obra que trate explicitamente da Grande Depressão. Eisner passou parte de sua infância e adolescência no período e, como em grande porção de sua carreira como autor de graphic novels, embebeu estas histórias com intenso apelo autobiográfico. A relação deste tipo mais famosa é a do conto que dá título ao livro, e muitos conhecem: Frimme Hersh, um “bom judeu”, que imigra sozinho para os EUA com a finalidade de fugir do antissemitismo crescente na Europa, faz um “contrato com Deus” por suas boas ações, e adota, em solo americano, uma bebê que largaram na porta de sua unidade no cortiço número 55 da famosa (no imaginário de Eisner) Avenida Dropsie. Porém, o acaso, Deus ou uma doença, leva a filha adotiva de Hersh, que, revoltado por ter tido seu “contrato” quebrado, rompe com a religião e torna-se um cínico especulador imobiliário.
Eisner perdeu uma filha de 16 anos para a leucemia alguns anos antes de publicar Um Contrato com Deus, e procurou plasmar/sublimar esse evento, de alguma forma, com a bela história. O lado pessoal e de forte impressão humana acompanha os outros contos: um andarilho que canta óperas nos becos dos cortiços por trocados; um zelador antissemita que é seduzido (e enganado) por uma garotinha, e que acaba se suicidando; as viagens de férias para fazendas “cookalein” ao redor de NY, típicas do período, que ofereciam quartos e lugares para cozinhar, revelando desventuras e tragédias sexuais das famílias dos cortiços. Todas os dramáticos núcleos se concentram, portanto, ao redor desses blocos de condomínios de imigrantes no Bronx (na época, muito longe da gentrificação atual), que se aglomeraram em Nova York após a Primeira Guerra Mundial e se multiplicaram durante a Depressão.
Eisner instaurou, portanto, um espaço para a Depressão novaiorquina. Sua materialização do período não é pesquisada e didática, como é o caso de Kings in Disguise, mas sim emergida do plasma da memória, única fonte confiável (sqn) sobre a matéria em si, como diria o filósofo Henry Bergson. A história “Cookalein”, por exemplo, mostra uma perturbadora (ainda que cômica) anedota de iniciação sexual de um certo “Willie”. Todos os espaços (a avenida, o cortiço, a fazenda) são transformados pela afecção da memória – e portanto carregados de melodrama –, como no neorrealismo italiano ou no kammerspiel de um filme como O Último dos Homens (Der letzte Mann, F.W. Murnau, 1924), citado implicitamente no prólogo para Um Contrato com Deus.
O Último dos Homens contava a história de um porteiro que perdia seu emprego, mas procurava manter o uniforme (e o prestígio) quando voltava para o miserável cortiço alemão onde morava. Esse cortiço alemão pós-Primeira Guerra, nesse caso, é espelho do cortiço novaiorquino pós-Depressão, e o impacto destes espaços é, digamos, mais termal do que qualquer outra coisa. Lendo as páginas de Eisner, especialmente por ele decupá-las muito pouco, vazar os quadros e privilegiar imagens grandes, sentimos a temperatura e o odor desses ambientes (especialmente se lermos pela enorme “Biblioteca Eisner” da Devir): suor, chuva, comidas fortes – ruas.
A afecção de Eisner sobre a Grande Depressão e o ajuntamento – como espécie de apartheid – de imigrantes em blocos idênticos de unidades apertadas e vazadas (os cortiços), exploram a miséria da época sem necessariamente buscar um teor sociológico ou mesmo político. A infância pobre e seus personagens (cujas vidas se misturavam nesse fluxo entre o público e o privado dos cortiços) fizeram o autor de Spirit voltar-se, ambiguamente, para a glória divina e para a tragédia, para o encanto artístico e a exploração, para a solidão masturbatória e o abuso infantil, para o amor e para o estupro. É esta a nuvem humana carregada na Avenida Dropsie que, de certa forma, sintetiza um emaranhado de impressões sobre o período.
Kings in Disguise – Os “miseráveis” e uma antijornada do herói
Em determinado momento da “jornada pela América profunda” atravessada pelo menino de 12 anos Freddie Bloch, ele recebe uns trocados e, exaurido física e mentalmente, compra um bilhete para o cinema. A então jovem sétima arte tinha feito parte de sua infância, algo que não estava assim tão distante, quando morava com o pai viúvo e um voluntarioso irmão mais velho. Após o começo da recessão, o pai parte para Detroit em busca de qualquer oportunidade de trabalho nas fábricas de automóveis da Ford, abandonando os filhos com uma promessa de retornar. O irmão Albert acaba se envolvendo com o mundo do crime, imitando os filmes com James Cagney que os haviam influenciado. Aos poucos, a virada abrupta na vida de Freddie, que precisa sobreviver na brutalidade das ruas, torna-se seu cotidiano, e seu passado em família se converte em sonho.
E é o sonho que acaba também se convertendo em alívio em Kings in Disguise, tanto para o jovem protagonista quanto para o leitor, que precisa enfrentar, junto com o garoto, uma escalada de violência e miséria que se avolumam na história. Quando vai ao cinema em Detroit (no caso, um filme de Laurel e Hardy), Freddie não consegue ficar um minuto acordado. Ele se rende a um sono profundo, que mistura elementos dos filmes com seu recente – mas ainda assim distante – passado e o voo de Lindbergh. Galinha que tem asas, mas não pode voar, Freddie possui apenas um refúgio para uma nova e cruel vida que só comporta privações: em Kings in Disguise, os sonhos do menino servem como paradas rítmicas, que nos inundam com seu traumático mundo interior.
A presença do cinema (fábrica de sonhos), assim como dos quadrinhos e dos pulps nas bancas retratadas pelo detalhista ilustrador Dan Burr, revelam como, durante a Depressão, uma determinada sociedade foi abandonada às margens e sem o direito à mais básica assistência social, enquanto outra, privilegiada, manteve seus hábitos diários, associados à indústria cultural – que avançou com força nos anos 1930. A isso se dá, hoje, o nome de necropolítica, e certamente não estou me referindo apenas à década da Depressão, mas também a um futuro imediato que se anuncia, diante da desalmada ausência do Estado em políticas contra a pandemia, para o Brasil de 2020. Kings in Disguise é aqui.
Freddie e seu estranho amigo Sam – um “mendigo” de passado desconhecido (sabe-se que trabalhou nas minas) e que delira dizendo-se Rei da Espanha, correm no rio subterrâneo das pessoas que perdem não apenas a condição financeira de cidadãos, mas aos poucos veem suas identidades e seu próprio “estar-no-mundo” serem completamente transfigurados. Em vários momentos acompanhamos Freddie projetar, sobre sua agreste nova realidade, suas miragens (seu “filme interior”), que vão se tornando cada vez mais moinhos de vento: imagens do pai retornando, de um trabalho decente, do reencontro com o irmão e com as salas de cinema.
Talvez o autor James Vance quisesse dizer que o humano subsiste, mesmo em condições sub-humanas. No decorrer de Kings in Disguise adentramos num universo dog eat dog em que Freddie precisa lidar, por exemplo, com os chamados jokers, hobos pedófilos e estupradores que andam com jovens a tiracolo. Ou também com anarquistas messiânicos, líderes sindicais de classe média, pastores caridosos e utópicos fazendeiros de acampamentos.
Vance vai delineando essa fauna – tanto rural quanto urbana – criada pelos primeiros anos da Depressão, um ecossistema que não omite particularidades: é feito de caridade e compaixão, mas também de roubo, assassinato, trapaça e abuso. De certa maneira, atravessar a maltrapilha jornada deste romance gráfico é ligar uma bússola que vai apontando para onde sobrevive o humano, quando somos igualados a animais.
Por mais que Kings in Disguise seja um quadrinho direto e sem firulas formais (bastante dependente de seu texto teatral original), o que vemos emergir de seu discurso é uma abordagem da mídia extremamente humanizada, longe da exuberância técnica e estética de pares da época como Watchmen e Cavaleiro das Trevas. Trata-se de um quadrinho cru não apenas em sua sincera recriação visual do mundo da década de 1930, mas que revela também uma nação crua. Se os outros quadrinhos revolucionários de seu tempo estavam preocupados em problematizar a famosa Jornada do Herói proposta por Joseph Campbell, Kings in Disguise não fazia de antigos heróis, anti-heróis. Apenas deslocava o protagonismo para os “miseráveis”, mas não através de tarefas quaisquer que questionasse seu heroísmo (ou seja: não havia “jornada” para lugar algum). As etapas da graphic de Vance e Burr não têm direção, a não ser a sobrevivência em seu estado mais indigno e primal. Neste sentido, esse quadrinho poderia ter tido maior influência sobre a produção posterior. Eisner partiu do herói (Spirit) para o anti-herói (Frimme Hersh). Vance e Burr partiram da jornada para a antijornada.
Convergências e divergências
Sendo um derivado do outro (Kings in Disguise parece ter sido “despertado”, enquanto HQ, pelo potencial das graphic novels de Will Eisner), estes quadrinhos estão amarrados pelo seu contexto temático: Eisner deixa a Depressão como pano de fundo para examinar dramas humanos que seriam fantasmas de seu passado. É pessoal e mais impressionista, apesar da influência do neorrealismo cinematográfico, mas seu discurso político vai se arraigar nas entrelinhas. Kings in Disguise, por sua vez, é motivado por uma inspiração explicitamente política. James Vance era um dramaturgo de esquerda, e os signos de seu quadrinho (filmes, fábricas, revistas, cartazes de Hoover, etc.) podem ser mapeados em direção a um discurso social mais estruturado. Mesmo concluindo com estranho misto de amargor e esperança, Vance não deixa de subscrever algum tipo de tese, algum tipo de teoria social em seu longo romance gráfico.
Porém, se esses quadrinhos diferem em teor, tema e, por que não, em temperatura, eles se igualam na apresentação do espaço. Um Contrato com Deus nos apresenta escadas, unidades de cortiço, becos e uma urbanidade chuvosa, triste. Kings in Disguise vai até Detroit, nos mostra sindicatos, igrejas, acampamentos, trens, cinemas. O primeiro exibe o espaço “interno” da Depressão – a motivação íntima daqueles personagens por meio dos pisos dos degraus de seus prédios. O segundo aposta nas paisagens gerais, com intenção de construir um panorama narrativo longo e consistente. Por mais que não se possa comparar a arte de Dan Burr à de Eisner, o ilustrador de Kings in Disguise tem o mérito de saber ilustrar cenários, objetos (como carros, carroças, barracos, uniformes) e espaços com detalhismo fotográfico. É uma pena que sua inabilidade com rostos e pessoas em geral faça o texto de Vance perder um pouco da força expressiva.
No quesito “estilo”, finalmente, as opções estéticas apontam também para os insights dos autores quanto ao tema da Depressão. Eisner, genial e desabrochando uma nova fase em sua então já brilhante carreira, vaza os quadros, torna-os painéis, desenha balões enormes, preocupa-se com a economia e a elegância. É uma espécie de Thelonious Monk do nanquim. O apuro com que ilustra Um Contrato com Deus revela um artista com a consciência de que cada traço ali esconde uma ambição secreta, um desejo de empurrar a mídia para zonas não trafegadas, um ímpeto de revolução. Eisner sempre foi discreto e modesto em relação à sua influência na mídia dos quadrinhos. Era um homem gentil e sóbrio, não muito dado a veleidades. Quando a coisa recaía sobre sua arte, porém, um colosso de ambição como que “surgia das águas” para causar um impacto gráfico sobressalente e vigoroso.
Cada rosto, cada movimento sugerido e cada forte contraste das linhas de Um Contrato com Deus está aí para capturar leitores de qualquer época com esse impacto. É uma HQ que sobrevive, inabalável. Já Burr, desconhecido na época e “pescado” da Kitchen Sink, com seu naturalismo “feijão com arroz”, estrutura a narrativa em muitos, infinitos quadros, totalmente carregados de fala, que travam a história numa certa imobilidade de gestos e expressões. Mesmo com o necessário detalhismo dos cenários e a potência do texto, Kings in Disguise é engessado, difícil de ler, e inofensivo do ponto de vista da forma (nesse sentido vale a pena conferir as capas originais, feitas por gente do quilate de Steve Rude, Mark Schultz e Harvey Kurtzman). Talvez por isso, mesmo que merecesse figurar entre os principais quadrinhos norte-americanos dos anos 1980, ele tenha caído em um certo ostracismo.
Um Contrato com Deus e Kings in Disguise são obras que colocam em perspectiva uma época espelhada num mundo que se anuncia para nós. São testemunhas de um passado que teremos inevitavelmente de rever. Para quem se interessou por Kings, que nunca saiu em português, mas está disponível em espanhol (pela Norma, de Barcelona), Vance (falecido em 2017) e Burr retomaram a história original em 2013 para publicar uma sequência em quadrinhos (na verdade, a primeira peça, que saíra em 1979), On the ropes.
LEIA TAMBÉM:
REMARQUE, TARDI E SAM MENDES: TRÊS LEITURAS SOBRE UMA CATÁSTROFE