Demolidor de bronze
/por Márcio Jr.
Mark Waid e Chris Samnee fizeram meu Demolidor nº 3.
Frank Miller e o trio Ann Nocenti, John Romita Jr. e Al Williamson (um deus dos quadrinhos, brilhando na arte-final mais linda e delicada que já entintou JRJR) ocupam, respectivamente, os dois primeiros lugares desse pódio particular. Melhor gibi de super-herói dos últimos tempos. Disparado. Justamente por não ser pretensioso. Talento de sobra, a técnica na palma da mão. O resultado não poderia ser outro.
Poderia acompanhar a série anos a fio, apenas saboreando as idas e vindas da vida do Matt Murdock de Mark Waid. Mas acabou. No Brasil, foram 11 volumes. Tá de bom tamanho.
Impressionante como ao longo de todo este tempo o roteirista manteve o título em um nível muito alto, sem apelar a nenhum tipo de jogo fácil. Nenhuma morte ou reinvenção descabida do personagem. Nenhum truque barato pra pegar o velho e cordato nerd. Só o cuidado com a qualidade das histórias, diálogo direto com o leitor. Diversão de primeira. Tudo que eu espero de uma HQ de super-herói.
E pensar que ali pelos anos 70, a esmagadora maioria dos gibis da Marvel era deste nível.
Samnee não foi o único desenhista da série. A coisa começou com Paolo Rivera, passando pelo grande Marcos Martin – ambos especializados em visual vintage, narrativa clássica. Coisa fina. Mas foi Samnee que levou o barco mais adiante.
Os gibis de super-heróis atuais navegam a onda do hiper-realismo gráfico. O cara desenha até a costura da cueca. Dá-lhe hachura. Tudo parecido, duro, sem inventividade – salvo raras exceções.
Samnee é contemporâneo, sem virar as costas para o passado. Seu desenho é elegante e sempre bem resolvido. E o mais importante, não está preocupado em desenhar tudo presente na cena, mas sim em representar o que lá acontece. Manda muito bem em sequências de ação, com coreografias supimpa. E também nas cenas de diálogo, de encontros entre personagens humanos, sem uniformes de super-herói. Chris Samnee tem um senso de direção de atores que potencializa o texto invariavelmente inspirado de Mark Waid. É isso que um gibi de super-herói tem que ser: inteligente, criativo, instigante e divertido. Imaginação correndo solta. Menos que isso, não vale nada.
Muito foi dito sobre a cena do beijo que dá início à série. Café pequeno. Tampouco que Demolidor seja um série “leve e alegre como nos velhos tempos” ou algo que o valha. Porra nenhuma. O Demolidor de Waid só não é soturno e pretensioso como o de Miller. As tramas são complexas e incrivelmente bem desenvolvidas pelo roteirista. Uma narrativa dinâmica atravessa gibi após gibi. Alex Toth e Jordi Bernet, responsáveis pelo clássico Torpedo 1936, estão na fonte. Samnee dando um show de design na maioria das capas. Por mim, vai pro trono.